domingo, 29 de dezembro de 2013

SOLTEIRA SIM.

Ter 20 anos é encontrar o amor de sua vida várias vezes, tomar grandes decisões e aceitar o risco de se desfazer delas pouco tempo depois, mudar de cabelo, de roupa, de humor e de cidade sempre que surgir uma vontade imperativa de se manter em movimento. E isso é completamente aceitável e esperado, se você é jovem, bonita (o) e ainda não passou dos 30. Casamento, matrimônio, núpcias, bodas, união... Todos esperam que quando você chegar a tal idade alcance o sonhado "felizes para sempre". Todos? A diretora argentina Paula Schargorodsky mostra que a busca pela felicidade não depende de alma gêmea - é possível ser feliz mesmo que lhe falte "ser completa (o)" pela outra metade da laranja. Depois de mudar de cidade, de namorado e de vida, Paula passou a filmar compulsivamente sua rotina e a partir dessas imagens é que temos a chance de vislumbrar como a sociedade pode ser dura para quem não segue seu padrão estipulado há milênios. O filme tem um tom feminista, mas a própria diretora reconheceu posteriormente que não só as mulheres passam por isso, é uma questão que não diz respeito aos gêneros e sim ao nosso establishment. Então, tomo aqui a liberdade de refazer a frase que mais me emocionou entre todas do curta metragem: "A liberdade NÃO tem prazo de validade".

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

A ECDISE DO AMOR


As cobras trocam a pele periodicamente. O processo, chamado tecnicamente de ecdise, ocorre para o réptil poder expandir seu corpo e crescer. O amor também troca de pele, expande-se e cresce. O grande enigma do amor talvez viva na sua flexibilidade frente as nossas idealizações. Amor não é comercial de margarina. Amor é todo dia mesmo quando se ausenta por dias, e continua sendo amor mesmo quando já não é amor em gestos. O amor vive nos gestos, mas mais do que isso, sobrevive aos gestos. Às vezes ama-se em silêncio e em críticas. Amar é baguette e café, é almoço mais ou menos ou festa de Babette. O amor cabe e descabe em si. Amar é ter raiva também, sabendo-se estar despido de medidas perfeitas. O amor possível só existe dentro do que cabe em nós, em nossa vida real. Amor com cenário tem validade como tendência de moda. Amar alguém é desnudar-se e manter-se vestido suficientemente para que haja a compreensão de que amar não é apropriar-se. É conseguir olhar o outro distante do olhar da procura dos que nos falta. É afastar-se de preencher desejos ocultos e construir desejos juntos. O outro é o outro com possibilidade do pronome nós sem gigantismos, sem tentáculos. Ser continuamente metade é abrir portas para o amor virar bengala. Ser inteiro é abrir portas para ser dois. No amor não existe roteiro nem música ao fundo no momento exato. Também não existe certezas, apesar da certeza. Quando se ama não cabe códigos de desempenho, de facebook ou de Instagram. No facebook há uma tendência a felicidade e no Instagram uma tendência a lindeza, tudo devidamente ornamentado com coisas bonitas, comidas maravilhosas e objetos imperdíveis. Nem sempre se ama feliz, nem sempre se ama lindo, nem sempre se tem fome. Muitas vezes se perde o apetite durante o amor. Amar é conjugação infinita e pode parecer muito complicado, apenas porque esquecemos que pode ser simples.