sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

MAPA DO DESTINO





Não aprendi a falar, aprendi a dizer o que sinto e sinto muito se isso não agrada.
Quando se passeia pelo lado selvagem  descobre-se que não há outro lugar possível.
Ou somos selvagens por inteiro, ou não somos. Não existe meio termo para quem tem olhos de bicho.
Há uma parte de mim que quase ninguém conhece. Não importa. Nasci selvagem, por isso, hoje, me alimento de novas paisagens.
Os mais distraídos acabam deixando a vida passar em branco.
Se eu fosse um chocolate, seria um bombom com recheio de geleia de pimenta.
Se eu fosse um filme, seria um Almodóvar. E, embora eu pareça meio louca e exagerada, amo desesperadamente tudo o que me transporta para o convívio das 'gentes'. Amo olhar o outro; ler o outro; ser alguém para alguém.
Aos 17 anos resolvi ler Nietzsche e Foucault. A partir daquele momento em diante a minha loucura teria morada para sempre: a escrita.
Seria muito charmoso se eu dissesse que não passo de uma mulher confusa. Mas não. Há tempos abandonei essa mania estranha de achar que estou perdida só porque escolhi ser diferente. Acreditava que não se escolhe ser diferente. Mas é uma escolha sim. Um belo dia, você acorda e pensa que PeNsA.
E de tanto pensar em pensamentos eles acabam vivendo e te transformam numa fábrica.
Você fabrica diariamente milhares de ideias e pensamentos. Mas não são comuns. São extraordinariamente e infinitamente diferentes. A partir do momento que escolheu, não há como voltar atrás.
E, quase sem querer, encanta. Encanta de propósito e encanta sem propósito algum. Simplesmente porque não consegue mais caminhar em padrões. Seria tão mais simples se não fosse assim. Mas eu não sou nada simples.
A minha força nunca seca. Não há foice que me alcance, pedras que me prendam e nem reza que me destrua.
Muitas vezes me retiro de mim. Brigo comigo mesma, porque é muito difícil vestir-me na solidão.
Nenhum animal sentimental consegue abrir mão de ser quem realmente é.
Todos nós temos uma vocação, um dom, uma chama que não se apaga. 
Eu sei que tenho isso, porém, às vezes, tenho de esconder-me para não quebrar nada.
Há uma infinidade de raros, ímpares, que quebram tudo. Quebram paradigmas, quebram preconceitos, falsas necessidades. Isso causa medo. Ninguém quer ser desmascarado em suas pequenas maldades diárias. Saber ver te deixa sozinho e angustiado.
Há um mapa dentro de mim que me guia para um lugar determinado. Um lugar em que ser diferente é tranquilo. É simples.
Deve haver esse lugar. E sua beleza será tamanha.
Agora com licença, tem uma dama do outro lado da rua me chamando para a realidade.
É tão exaustivo ser alguém. Principalmente a Drika.
Mas, felizmente ou infelizmente, ela escolheu ser assim.
Que os anos a ensinem, pelo menos, não se desviar do caminho e seguir o mapa até encontrar seu destino.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

MOMENTOS

12/01/13

De repente você cansa.
Cansa das músicas que sempre ouviu, das pessoas que te cercam, das roupas do armário, das ruas em que anda.
Cansa do jeito que penteia o cabelo, do jeito que levanta da cama todos os dias e das palavras que escolhe para não dizer o que realmente gostaria de dizer. 
Cansa de tentar fazer os outros enxergarem o quanto dói.
Cansa de ofertar verão e receber inverno.
Cansa pelos dramas das situações vividas, da distância de quem deveria estar perto. Cuidando. Zelando.
E por mais que você corte o cabelo, compre roupas novas, faça uma viagem, leia sobre assuntos inimagináveis, faça uma tatuagem ou qualquer outra coisa, não adianta. 
Porque, no fundo, você não está cansado do mundo, mas da maneira como reage a ele.
Da maneira como reage a uma pedrada, a uma flor, a um menino de rua, a ausência de lua em suas noites cheias. 
Não é aceitar a vida como ela é que cansa, mas sim a dança que fazemos para nos esquivar de tudo aquilo que não entendemos ou sentimos medo.
O que cansa mesmo é a insegurança.
Incerteza.
Mas de onde vem essa certeza?
Quem a possui?
Então, ultimamente, tenho optado pelos momentos vividos. Não é justificativa de quem erra, é o propósito de quem quer carregar somente o que não pesa.
Pelo menos me faz sentir que estou viva e não apenas vivendo.
Existem momentos que deveriam existir repetidamente para sempre.
Já que isto não é possível, então, uma alternativa é gastar até a última gota de suor e lágrimas tentando construir momentos inesquecíveis. Quem sabe, ao fim da vida, tenhamos o livro de nossos passos repleto de pequenas histórias mágicas.

UM MOMENTO INESQUECÍVEL É QUANDO AMAMOS A NÓS MESMOS.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

SE ALICE EU FOSSE




Se Alice eu fosse teria aprendido com o Chapeleiro que o impossível é quase possível, tudo é uma questão de duas letrinhas a mais. Teria me servido da loucura como um vestido novo; e ficado linda com ele.
Não me irritaria com aparições e desaparições de certos gatos, não tomaria a culpa para mim por isso. Não existem culpados.
Se Alice eu fosse não bancaria a jardineira que tenta esconder seus defeitos como aqueles que pintam rosas brancas de vermelho.
E teria aprendido com a duquesa que 'somente pássaros da mesma cor voam juntos para onde for' e talvez tivesse me tornado aquilo que pretendia ser.
Saberia que toda tristeza esconde seus motivos e, jamais, me permitiria sentir tanto medo ao ponto de esquecer meu próprio nome.
Entenderia, por fim, que qualquer hora é hora para sentir-me feliz; que não preciso marcar o passo, nem me apressar, nem me desligar. O chá seria servido quente ou frio, tanto faz, o importante mesmo seria tomá-lo.
Teria uma alegria profunda com as coisas sem sentido, pois teria ouvido da própria boca do Chapeleiro que as coisas sem sentido evitam um grande problema: o de procurar sentido nas coisas! Procurar muito o sentido não sobra tempo para viver. 
Se Alice eu fosse seria exatamente como eu sou: uma menina maravilhada com tudo o que vê, ouve e sente.
Se Alice eu fosse trataria de apressar a Drika para que ela não se atrasasse para a vida.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O MEDO





O MEDO SE ESCONDEU DA CORAGEM!

    As pessoas grandes nunca poderiam entender. Era o que eu sempre repetia.

    Estranho! Mas eram meus pais que diziam:

    _Paulinho, isso não é lugar para criança. É escuro. É molhado, pega gripe. Não vá atravessar a rua. Você é pequeno demais. Alguém te leva embora. Criança levada barata vem comer de noite. Volte aqui senão o bicho-papão te pega.

    Se toda criança vem ao mundo para um dia ser gente grande...isso eu não entendo!
    Gente grande não deveria ter medo. Mas é gente grande que põe medo em criança!!!

    E eu fui vivendo no meu mundo do medo. Apertado. Escondido da coragem. Nem sabia se ela existia mesmo. Via na televisão. Nos filmes. Queria conhecer. Mas como eu poderia acreditar mais em histórias do que em gente grande?
    Minha história começou desde a barriga da minha mãe. Mas antes eu vou me apresentar.
    Eu sou o Paulinho.
Todo mundo falava quando eu nasci:

    _ Nossa, esse aí, coitadinho. Não vai muito longe. Tão fraquinho.

    Nasci antes da hora. Acho que porque eu sou apressado mesmo. Minha mãe me contou que eu era tão pequeno, mas tão pequeno que cabia numa caixinha de sapato.
    E ela tinha muito medo. Medo de me ver doente e eu ficar assim, pequenininho ou diferente das outras crianças.

    Mas ninguém é igual a ninguém mesmo!

    E eu já não sabia se o medo era da minha mãe, do meu pai ou era meu mesmo.

    Meu pai também tinha medo.
    Vivia bravo com a minha mãe.

    _ E se o dinheiro não sobrar para o final do mês?

    Eu não entendo para o que serve o dinheiro.
    As pessoas, às vezes, brigam por causa dele. Acho que isso é medo também.
    Só sei que cresci sem saber de quem era o medo. Mas ele estava ali, bem perto de mim! Espiando minha vida.
Aranha embaixo da cama. Medo!!!
    Quando acaba a energia e ninguém acha uma vela em casa.
    Filmes de gente gritando.
    Fantasmas. Nunca vi nenhum. Nem sei se existem. Mas escutei por aí, então, tenho medo.
    Roda gigante.
    Pula-pula.
    Andar de avião. Meu pai falou que nunca terá dinheiro para viajar de avião, mas eu tenho medo mesmo assim.
    De ficar sozinho. Nunca fiquei.
    Do meu primeiro dia na escola.
    De gente que não conheço.
    De bicho. Qualquer um.
    Do homem da mochila. Minha mãe vive falando que ele me pega se eu não obedecer.
    E meus medos foram ficando cada vez maiores.
    Perdidos num cantinho chamado coração.
Eu até tentava disfarçar, mas não tinha jeito. Dizia para minha mãe:
    _ Mãe, eu não tenho medo. Pode deixar comigo.
    E era só eu apagar a luz, sozinho, para começar a gritar e a correr.
    Ou então, falava para meu amigo Felipe:
    _Eu vou te provar, não tenho mais medo.
    E a bola ia pipocando longe no campinho. Essa não! Eu que não ia pegar. Todo mundo ria de mim, menos o Felipe. Esse sim era corajoso. Não tinha medo de nada. Eu via nos olhos dele que ele queria me ajudar.
    Mas como?
    O medo grudou em mim feito aquela bala estica-e-puxa que cola no dente da gente.
    Mas tudo isso estava para mudar. E aconteceu tão de repente que o senhor medo nem conseguiu acreditar.
A chuva batia forte na janela. Isso também me assustava. Mas eu sabia bem lá no fundo que chuva era boa. Só que fazia muito barulho.

    A mamãe logo gritava de longe:

    _Paulinho, calce os chinelos, você vai pegar um resfriado!

    Eu não gostava quando ela gritava de longe.  Meus cabelos que eram enrolados na ponta quase ficavam lisos de medo. Minhas bochechas rosadas perdiam a cor. Não gosto das minhas bochechas. Gente grande adora apertar e beijar criança que tem bochechas rosadas. Eu até gostava no começo. Claro, antes de ver a cara feia da minha mãe. Ela dizia que podia pegar doença quando alguém beija a gente assim de supetão.

    Beijo é bom. Não devia dar medo também.

    Aquela noite seria a maior noite da minha vida. Tudo mudaria.
    Eu não seria mais o Paulinho medroso e sim o Corajoso.
Já estava quase na hora de dormir. Dei boa-noite aos meus pais e fui para a cama. Claro que minha mãe me levou até o quarto. Fizemos as orações como sempre e ela foi embora. Pedi para não ter medo, dormir logo e não sonhar. Não gostava de sonhar. E se um monstro aparecesse nos meus sonhos?
    Gostava mesmo era de deitar e só acordar no outro dia. Assim, num piscar de olhos.
    Mas essa noite estava difícil. O senhor trovão e o senhor relâmpago estavam bravos.

    E foi num pedacinho de tempo que um clarão iluminou minha janela. E eu vi.
    Um rosto estranho. Uma máscara só deixava os olhos de fora. Era o próprio medo.
    _ E é mesmo Paulinho __ uma voz de gente grande que eu não conhecia falou de dentro do meu quarto. Eu me afundei mais ainda no cobertor.
    _Quem é? Eu vou gritar.
    _Não! Fique quietinho. Eu vim para te ajudar.
    _Quem é vo...vo...cê? Disse isso já quase chorando.
    _Eu sou o Coragem.  O Super Coragem e só apareço quando alguém precisa da minha ajuda e me chama.
    _Mas eu não chamei ninguém.
    _Chamou sim. Você chamou, disse -  CORAGEM!!!
    _Disse, mas não para você. Disse para a minha cabeça.
    _Não adianta. Você me chamou e eu vim te salvar do vilão mais terrível: O Doutor Medo.
    _ DOUTOR MEDO??? Agora essa para eu me preocupar. Já não tenho medo suficiente, agora tenho de pensar também em um super vilão?
    Era o fim. Medo de bicho. Medo de chuva e de um monte de outras coisas. Agora eu ia ter medo também do Doutor Medo.
Fechei os olhos. Contei até três. Nada. Os dois continuavam ali. Um no quarto e o outro na janela.
    E agora?
    _VÃO EMBORAAAAAA!!!!!!!!!
       MANHÊ!!!!!!!!!!!
    -Não adianta, ela não vai ouvir. Dizia o Super Coragem todo confiante.
    _Olhe, Paulinho. Eu já ajudei muitas crianças que também tinham medo. Você tem de confiar em mim.
    _Quer dizer que não sou apenas eu que sinto medo?
    _Claro que não. Mas você tem de aprender que ele te faz mal. Você tem de enfrentá-lo.
    _Mas como?
    Esse era o problema. Nunca ninguém tinha me ensinado a enfrentar meus medos. Pelo contrário. Só me ensinaram a ter medos e mais medos. E agora, ele estava ali, pregado na janela me procurando.
    Foi quando saltei da cama feito um foguete, saí debaixo do cobertor, olhei bem firme o Super Coragem e perguntei:
    _Então, eu quero aprender. Como eu vou enfrentar o medo, quer dizer, o Doutor Medo?
    _É simples. Você vai lá, abre a janela, olha bem firme na cara dele e diz: EU NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ. SOU CORAJOSO!
Esse Super Coragem só podia estar de brincadeira.
    _O quê??? Nem pensar. Ele vai me pegar. Você deveria me salvar. Vá ate lá você e acabe com ele. Você é o Super Herói aqui. Esqueceu?
    _Você está enganado. Aquele lá fora não é o meu medo. É o seu. Cada um tem os seus próprios medos e não adianta eu enfrentá-los por você. Você tem de fazer isto sozinho. Eu só vim aqui para dizer que a coragem vive dentro de você. Tenha fé. Acredite. Você pode vencer esse medo lá fora.
    _Eu não consigo. Eu tenho muito medo.
    _Paulinho, todo mundo tem. Imagine o mundo sem medo. Não há como não sentir.
    _Então, como as pessoas grandes conseguem se elas também têm medo?
    _O segredo está nisto que vou te falar: o Super Coragem é bem mais forte que o Doutor Medo.
    _É sério?
    _Claro que é. Vou te mostrar. Se a coragem não fosse maior não existiriam cidades, prédios, pessoas que inventam super coisas como o avião ou os remédios que curam doenças. Não existiriam os atletas ou os jogadores de futebol. E se eles tivessem medo? Quem marcaria o gol? Para toda coisa ruim que existe no mundo, há uma coisa boa muito maior ainda. Para todo medo existem milhões de pequenas coragens. Toda vez que você ajuda alguém é corajoso. Você acha que quando uma pessoa salva a vida de outra ela não sente medo? Mas ela salva mesmo assim. O medo te impede de ser quem você realmente é, Paulinho.

    _Então, quer dizer que eu tenho coragem dentro de mim?

    _Tem. Só tem de descobrir como fazê-la maior que seus medos.
Mas eu não sei como se faz isso.
    _Só você pode descobrir.
    Foi então que um grande estouro foi ouvido por todos da rua. Nenhuma casa tinha um fio sequer de luz. Acabou a energia.     Escuridão total.
    E o pior estava por vir.
    O vento era tão forte que a janela abriu sozinha. Será que foi sozinha mesmo?
    Fiquei congelado. Voltei correndo para debaixo do cobertor. Cadê o Senhor Coragem? Silêncio.
    Foram os piores minutos da minha vida.
    Escutei passos vindos de dentro da casa. Era a minha mãe que vinha com uma vela. Ela sabia que eu tinha muito medo de escuro. E agora? E se o Doutor Medo pegasse a minha mãe?
    Levantei da cama com um pulo só. Fui até a janela. Olhei firme para o escuro. Nada. Não senti nada me agarrando. Fechei a janela. Fui rápido. Mas estava preparado. Nada iria pegar a minha mãe.
Quando ela chegou no quarto com a vela e me viu de pé fechando a janela não acreditou.
    _Paulinho, você levantou no escuro? Nem calçou os chinelos? Menino...
    _Mãe, EU NÃO TENHO MAIS MEDO.

    É isso. O medo tinha ido embora. Eu entendia tudo agora. Minha coragem era mesmo maior que meu medo. E maior que tudo era o amor que eu tinha pela minha mãe.
    Daquele dia em diante o medo era bem pequenininho dentro de mim.
    Queria agradecer ao Super Coragem, mas ele nunca mais precisou me ajudar. Fiz uma oração e agradeci a Deus. Até pedi para me lembrar dos meus sonhos!
    Eu buscava a bola no campinho. Claro que olhava para os lados.  Mas pegava.
    Escuro? Que nada!
    Bichos? Gostava de estudá-los.
    Homem da mochila? Não existe.
    Pessoas que não conheço? Se minha mãe conhecia e era gente boa, fazia amizade.
    Primeiro dia na escola? Era a maior alegria.
    Bicho papão? Até parece!
    Fantasmas? Não fico mais arrepiado!

    Até meu pai foi ficando sem medo.
    _Acho que o dinheiro chega até o final do mês.
Minha mãe?
    Ela tem muito medo. Eu sempre digo para ela:
    _Mãe! Não se preocupe. Dentro de você tem muito mais coragem do que medo. 
    Então, eu mostro para ela uma caixinha de sapatos antiga.
    Às vezes, eu não entendo gente grande. Eles sempre choram quando ficam alegres e também quando ficam tristes.
    Eu não gosto de chorar.
    E se as pessoas pensarem que eu tenho medo?
    Bem, medo eu ainda tenho. Mas é só um pouquinho. Quase nem dá para sentir mais.
    E se alguém me perguntar:
    _Paulinho, o que é coragem?
    Hoje eu sei a resposta.
    _É  amar tanto, tanto...e querer tão bem as pessoas e a vida, que não sobra nenhum pedacinho no coração para o medo.
    Disso as crianças entendem bastante.
    E as pessoas grandes aprendem com a gente.
    E, então, sem medo, você pode ser realmente quem você é!
 Deus te dá coragem! Acredite!


Drika Martins
(Escrevi em dezembro/2011)



ESCREVER


    Para você escrever sobre um assunto, não tem caminho mais fácil. Não existe solução mágica.   Para escrever você tem de estudar e ler. Simples. Criar um método individual de estudo.  Compreender sobre o que irá escrever. 
    Estar atento ao que acontece ao seu redor. Fazer relações epistemológicas - conhecer. 
    Minha avó dizia: "Não há como tirar leite de pedra". Fato. Não há como escrever sem estudar e ler. Regras ortográficas e técnicas te auxiliam e facilitam, mas escrever requer bem mais.   Reconhecer o objetivo do que irá escrever. Informar? Emocionar? Criticar? Ensinar? Divertir? A partir deste reconhecimento, transforma-se em palavras o que permeia a mente. Hoje é dia do leitor!
    Para mim, todo leitor é um coadjuvante escritor. 
    Quem lê, escreve. Quem escreve, lê!


domingo, 6 de janeiro de 2013

ESTILO


Ficou a velha parede descascada. Os sonhos mudam. Alguns ficam.
Enquanto anoitece em algumas regiões, me dou conta de que parou de doer.
E parar de doer, dói mais do que ferida aberta. É a saudade de gritar a dor.
As forças são parcas e isto já não é possível. Não é um apelo masoquista.
Mas é como se enquanto a dor estivesse presente, uma parte de mim ainda acreditasse que pudesse acontecer.
Verdade é que ainda pulsa. Não tenho respostas suficientes para me certificar.
Será que a vida é viver na espera? Mas todos os manuais pregam que a vida é aqui - agora.
E se o tempo não correr igual para todos? Para tudo? Existe mesmo o tempo para cada coisa entre o céu e a terra?
Ficou a velha parede descascada. Não posso pintá-la. Agora já é tarde, eu vou embora.
Vou mudar. Vou viver. Mas a parede sempre foi tão precisa em guardar minhas memórias. 
Passou a necessidade de entender. Passou a urgência. 
Bukowski dizia que 'estilo é a resposta de tudo'. Existe estilo para perder? Para sofrer?
Uma lágrima. Uma boa e quente xícara de café. Livros. Filmes. Amigos. Compulsão.
Prefiro o estilo para viver e, nesse meio passo, o sofrer vem na bagagem. Para mim é completamente inadmissível essa repressão ao sofrimento. É como se você não fosse grato, agradecido fielmente aos bens que a vida te proporciona. Claro que sou. Muito. Amo minha vida. Amo o estilo que dei a ela.
Mas eu sofro. Todo mundo sofre. Uns mais, outros menos. Aqui não é o paraíso. Não somos filhos do Éden, podemos buscá-lo, mas ainda não é aqui. Não agora. Essa superficialidade da vida me cansa. Você sempre ter de usar uma máscara 'smile' para tudo. Não. Estilo não é isso. Estilo é você encontrar seu modo de caminhar pela vida. Sofrer faz parte. Vivenciar momentos alegres também. E olhem que sou extremamente alegre, sorridente. Mas, não é toda hora que isso me toma. Sou adepta das máscaras caídas. Das verdades deliberadas. Do estilo verdadeiro. Ter estilo não é comprometer o outro com suas arrogâncias. Não. Ter estilo é achar seu próprio caminho: sem esperar a benevolência alheia. 
A parede descascada do meu quarto revela um estilo. Se é verdade que somos a soma das 'gentes' que andam por aí no mundo, quero mais é somar meu estilo para todos. Quero dedicar minha existência às minhas próprias paredes. Chegamos ao tempo da delicadeza quando conseguimos rir de nós mesmos, quando mesmo sofrendo temos um desejo absurdo de esperar pela próxima página,  próximo gole. 
Quando deixamos de sentir vergonha pelos nossos vexames, e passamos a encará-los como estilo pessoal.
A grande maioria desiste de ter seu próprio estilo e vivem a caricatura de si mesmos. 
Acho que deve ser muito assustador deixar sua própria parede descascar.
O que os outros irão pensar?
Delicadeza.
Dane-se.