sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu preciso de uma palavra não dita!















"Quando aquela voz saiu pelo fio do telefone
A muralha do verbo desabrochou em ternura
Ternura entorpece porque esquece os desatinos da sorte
Ternura em hora errada afoga mais que ciúme ou saudade
Com faca amolada nos dias estancados de ausência e exílio
Esquartejei a quantidade bíblica desse laço que chamam amor
Amor é laço de fita
Vaso de vidro
Óculos de grau
Um bonde
Uma enchente
Uma esteira
Febre
Alavanca
Indundação
Gangorra e Gangrena
Amor são palavras cruzadas..."

(Viviane Mosé)



Os sentimentos não têm valor
O que tem valor são os afetos...
Afetar e ser afetado pelo outro.
A palavra Amor sozinha, descontextualizada não tem significado.
O que se diz daquele que diz "Eu te amo" e não faz o amor ser amor...
Mas somente "palavreia".
Mas há aquele que não diz, nunca dirá e nem esperará "Eu te amo"
Mas o corpo reflete o amor, os gestos, os pensamentos, os atos, o sorriso, a voz, o pulsar, o caber, o sentir, o dizer, o sofrer, o calar, o tocar, o entender, o fazer, o molhar...tudo é amor sem precisar dizer Amor.
O amor também diz raiva e remorso,
contradição
impedimento
impossibilidade
caos
frenesi
desconstrução
perspectiva
choque de forças
desestrutura
ondas de confusão...

Drika

"...há gente que se aquece
por dentro, e há em troca
pessoas que preferem
aquecer-se por fora..."

(João Cabral de Melo Neto)




terça-feira, 27 de outubro de 2009

Eu mais eu!


















"...a vida, que vai desaparecer de uma vez por todas, e que não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que ela é sem peso, que está morta desde hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mais esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não têm o menor sentido. Essa vida não deve ser considerada mais importante do que uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV, que não alterou em nada a face do mundo, embora trezentos mil negros tenham encontrado nela a morte através de indescritíveis suplícios."

(trecho do livro " A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera).



A TEIA

Tudo emerge ao mesmo ponto
Cerne de uma vida rasgada
Sem notas de músicas alegres
Lá, naquele naufrágio de lágrimas
Construíste tua teia
Fio a fio sem cerimônia
Para me guardares em brancos lençóis
À espera de um milagre de mãos

Coração, pedra...ferro.

À espera de alguém que toque sem derramar sangue
Que envolva sem proferir negras mentiras
Lá, bem no centro da teia...

Te espero

Lave as mãos pois o chão é escuro e,
a alma não encontra paz
Até que tudo esteja limpo
Até que tudo seja morte.
No centro da teia.
Deixa eu te tomar nos braços
E ir aos jardins dos ceus

Não.

Agora, tudo já é morte.

(Adriana)


PARADA CARDÍACA (Paulo Leminski)

Essa minha secura

essa falta de sentimento

não tem ninguém que segure,

vem de dentro.


Vem da zona escura

donde vem o que sinto

sinto muito

sentir é muito lento.

sábado, 17 de outubro de 2009

Amor - A (longe-sem) MOR (morte)















"CONHECER UMA PALAVRA DESDE A SUA ORIGEM É COMO CONHECER UMA PESSOA DESDE PEQUENA".

Friday - Friday, sexta-feira em inglês, vem do alemão antigo Fria (deusa do amor) + daeg (dia) do inglês antigo. Na verdade, trata-se de uma adaptação do latim dies veneris (dia de Vênus). Fria ou Frigg era a deusa nórdica do amor, correspondente a Vênus da mitologia romana, deusa da formosura, do amor e dos prazeres. Coincidência ou não, parece que já na antigüidade a sexta-feira era dia do agito. É ainda curioso observar-se que, com exceção do português, a maioria das línguas ocidentais usam nomes de deuses da mitologia romana para os dias da semana. Também os planetas do sistema solar carregam nomes de deuses romanos.


1º DE AGOSTO - datas importantes...


Não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. O amor não se comanda e não poderia, em consequência, ser um dever.

Dizia Nietzsche: "O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal".

Nietzsche, Kant, Spinoza, Cristo, Pascal, Hume, Bergson, Platão, Sócrates, Aristóteles e tantos outros buscaram a definição do amor. E por que não nós mesmos?

O que é o amor?

O amor é portanto primeiro, não em absoluto, sem dúvida (pois então seria Deus ou a força superior), mas em relação à moral, ao dever, à Lei. É o alfa e ômega de toda virtude.
O amor não é tão desconhecido assim, nem a tradição tão cega, a ponto de ser preciso inventar sua definição. Tudo talvez já tenha sido dito. Falta compreender.

Ou apenas eu não o compreenda...

Pausânias em seu discurso distingue o amor popular, que ama mais o corpo que a alma, do amor celestial, que ama mais a alma que o corpo e é, por isso, "fiel a vida inteira, porque se uniu a uma coisa duradoura", ao passo que o amor aos corpos perece ao mesmo tempo que a beleza destes.

Encontra-se na mitologia greco-romana uma das primeiras formulações do significado do amor através das diferentes descrições do mito de Eros, o deus do amor. Embora a mitologia bramânica(indiana) também descreva a lenda de Kama, o deus do amor.

São várias as versões da história de Eros e Psique. Li a todas que encontrei.

Platão foi um dos mais importantes filósofos a se preocupar com esta temática, dedicando uma obra inteira à importância e ao significado do amor.
Em 385 A.C. compôs "O Banquete", considerado sua mais brilhante criação e um dos textos chaves da cultura clássica ocidental, uma das primeiras tentativas de análise e compreensão do amor ao iniciar a busca para a sua revelação.
Ele descreve o amor como sendo o responsável pela união das duas metades separadas desde a origem do ser humano. Todas as lendas, histórias e alegorias lidas são muito extensas para reproduzi-las aqui, porém são extremamente elucidativas. Segundo Aristófanes, os humanos apenas se sentirão completos quando encontrarem sua outra metade perdida e tal união só pode ocorrer por intermédio da força do amor.
A elevação do amor é uma questão de inteligência. Emoção e razão passam a fazer parte do mesmo fenômeno, o equilíbrio entre esses dois aspectos é o ponto de maior importância para o desenvolvimento do processo amoroso.

Entender as várias versões do mito de Eros me fez entrever alguns aspectos.
O amor também é visto como uma vivência que proporciona um encontro verdadeiro com o Eu supremo e divino, que compõe o sentido da existência e fortalece a sensação de pertencer a algo maior, dando um signficado à existência. Esse amor único também é desligado do tempo, por isso é considerado atemporal e imperecível, algo que não passa, pois tem sua porção divina, como descrito por Fedro.
Segundo Aristófanes, podemos compreender melhor o desejo frequente das pessoas que amam em estabelecer contatos físicos constantes com seus amados, pois esses contatos ampliam a sensação de bem-estar e prazer. O outro se torna seu objeto de prazer. Isso provoca o aumento da tensão e do receio em perder o objeto de prazer, propiciando o surgimento de emoções conflitivas de medo, dor e raiva, características encontradas em muitos amantes.
Ao perderem uma relação de amor, as pessoas reagem, tornando-se frias, distantes e tristes, seus olhos ficam sem brilho, perdem a energia ativa da vida, a dor se torna visível, o corpo se retrai, os gestos se apresentam lentos, a expressão é triste, pesada e sem brilho; há, inicialmente, um fechamento para novos relacionamentos, surge uma desorganização interna, enfim, tendem a perceber a vida como sem graça, sentem-se desmotivadas. A pessoa tem a sensação de estar longe de seu centro, perdida e solitária, como se estivesse morrendo.
O mito de Eros, descrito de formas tão diversas , aponta sua complexidade, importância e dinâmica. Pode-se dizer que a maneira de se expressar e sentir o amor se tranforma ao longo da existência, pois esse é um processo interativo e evolutivo.
Enfim, o amor é essencial para a realização e plenitude da pessoa, porque é o elemento que preenche de sentido a existência e humaniza as relações na medida em que abre espaço de existência para o outro junto a si.

O amor não é completude, mas incompletude. Não fusão, mas busca. Não perfeição plena, mas pobreza devoradora. O amor é desejo, e o desejo é falta. O amor, escreve Platão, "ama aquilo que lhe falta, e que não possui".

O amor é como um desejo que, por sua própria natureza, seria privado do que deseja, e permanece privado mesmo "quando alcança seu objetivo". Não é mais o amor como o sonhamos, o amor saciado e saciante, o amor água-com-açúcar: é o amor tal como é, em seu sofrimento fecundo, em sua estranha mescla de dor e de alegria, como disse Fedro, o amor insaciável, o amor solitário, sempre inquieto com o que ama, sempre carecendo de seu objeto, é a paixão, a verdadeira, a que enlouquece e dilacera, a que esfomeia e tortura, a que exalta e aprisiona.
O que fazer então?
Seguir o amor sem nele se perder, obedecer a ele sem nele se encerrar.

Stendhal diz que "amar é ter prazer em ver, tocar, sentir por todos os sentidos e o mais perto possível, um objeto amável e que nos ama".

Apaixonar-se está ao alcance de qualquer um. Amar não.

Talvez por isto seja tão difícil deixar de amar o que se ama.
Impossível.

"Amar", dizia Alain, "é encontrar sua riqueza fora de si".

Então, virar as costas para o amor - seria abdicar da vida, da felicidade, da unidade, da paz, da riqueza, da esperança, da caridade, da razão e da emoção, da inteligência, do prazer...



Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dia dos professores!



















Todo mundo se lembra de alguns de seus professores. Quem nunca teve pelo menos um que de alguma forma marcou sua vida? Eu tive vários e com histórias diferentes. Esta é minha homenagem.


PRÉ-ESCOLA

Eu me lembro muito bem dela ainda. Calça azul, camisa xadrez branca e vermelha. O mesmo uniforme que usei. Ela contava histórias como ninguém, meus olhos brilhavam quando ela pedia para que pegássemos a almofadinha redonda e nos sentássemos no chão para ouvi-la. Seu nome é (ou era) Wanda, ainda tenho guardada a foto dessa época, alunos em pé organizados pela altura...e ela lá, sorrindo. Eu me lembro dela!

MINHA PROFESSORA DE LITERATURA.

Eu já estava no colegial, ou seja, ensino médio. Tenho amor e sou professora de literatura hoje por causa dela. Nunca vi até hoje alguém que ensinasse com tanto carinho e dedicação. Ela amava ensinar. E se empolgava tanto que um dia caiu em cima de mim, não notou uma bolsa esparramada no chão. Todo mundo riu, até ela. Depois de muitos anos, por coincidência, soube de sua história. Ela criou os três filhos e pagou os estudos do marido em Medicina dando aulas. Mais tarde ele a trocou por uma mulher mais jovem e foi embora. Ainda coincidentemente, veio parar em minhas mãos um livro que era dela de sua época de faculdade. Era um livro rigoroso de estudos de Teoria Literária.....como gosto do assunto comecei a ler. Em quase todas as páginas haviam recadinhos escritos por ela para o ex-marido, naquela época namorado....dizeres amorosos, poesias......fiquei pensando. Ela perdeu muita coisa, mas continuou dando aulas. Quis entregar-lhe o livro, mas ela não aceitou. Disse que ele deveria ficar com a sua melhor aluna. Eu ainda me lembro dela!

QUE MEDO DE GEOGRAFIA.

Eu morria de medo dele. Ás vezes, tinha dores horríveis só de pensar que iria ter aulas com aquela criatura. Professor de Geografia. Eu não conseguia nem respirar. Ele me expulsou da classe por duas vezes. Uma vez porque esqueci minha régua, outra porque retirei um bichinho do cabelo de minha amiga que sentava na minha frente. Ele me olhava sério e dizia: "Você não presta atenção, vá tomar sopa lá embaixo..." Chorei várias vezes. Quando via minhas notas, não entendia. Eu só tirava 10. Tinha a impressão que ele me odiava, mas só me dava 10. Depois de muitos anos, eu já estava na faculdade, sempre o via nos corredores e olhava para baixo para que não me reconhecesse.....com certeza nunca me reconheceria, eu era adolescente naquela época. Um dia, uma professora minha estava no corredor com ele, quando eu passei ela me chamou, queria me perguntar algo banal, nem me lembro o que era. Os dois continuaram a conversar e eu, desesperada para sair dali, mas eles me embutiram na conversa. Em um certo momento ele comentou da precariedade do ensino atual e de como os novos alunos faltavam com respeito ao professor. Eu não me segurei, disse que os tempos eram outros e que, na minha época professor era mais rígido, assim como ele. Ele me olhou por alguns segundos e disse:"Você foi minha aluna", ao que prontamente concordei, não tinha como escapar. Contei-lhe minhas experiências e minhas impressões sobre ele naquela época. Ele escutou e soltava gargalhadas....no final, somente falou com ar de satisfação: "Por isso você está aqui, na faculdade, tenho alunos que estão presos ou já morreram". Nunca esqueci. Ele me abraçou. No ano seguinte morreu de um enfarto fulminante, já estava com a idade bem avançada. Eu ainda me lembro dele.

NA FACULDADE ELA FLUTUAVA MAIS QUE ANDAVA!

Meu 1º dia de aula na faculdade. Ela entrou como um anjo, flutuava. Tinha seus 60 anos mais ou menos, mas parecia uma jovem, seus olhos, sua voz, seus cabelos...tudo nela soava bem. Eu tinha muitos sonhos, a construir e já desfeitos também. Estar ali representava muito para mim. Ela leu em voz alta "Felicidade Realista" de Cecília Meireles, que até hoje me acompanha. Ela me ensinou que ler é voar na vontade, inventar momentos e ensinar o amor pela leitura é para poucos. Eu tive grandes mestres. Ainda me lembro dela.

EU SOU PROFESSORA. GRANDE RESPONSABILIDADE. TENHO QUE ESCREVER MINHA PRÓPRIA HISTÓRIA. SERIA BOM PODER SER PARA MEUS ALUNOS O QUE MEUS PROFESSORES FORAM PARA MIM. TALVEZ ELES NÃO SAIBAM, MAS ME ENSINARAM MUITO MAIS DO QUE PALAVRAS.
UM DIA, MINHA PROFESSORA OLHOU PARA MIM E DISSE - QUANDO NINGUÉM MAIS ACREDITAVA - "VOCÊ VAI LONGE FILHA... AINDA NÃO CHEGOU A SUA HORA DE DESISTIR. DEUS VAI TE DEIXAR AQUI MAIS UM POUCO. CONFIE". ELA MUDOU MINHA VIDA.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

















...Hoje, mais de 50 anos depois, vou dizer o que sentia por você. Você foi o que eu imaginava o que seria uma "namorada". Você despertou em mim um tremor novo, a primeira emoção do que mais tarde vi que chamavam "amor". Em uma tarde cinzenta, em frente ao portão de sua casa, eu senti uma alegria inesquecível como se tudo ali estivesse no lugar perfeito: a brisa leve da tarde, a paz da rua, o silêncio sem pássaros, você encostada no portão marrom do jardim. Não sei por que, senti uma felicidade insuportável, como se ouvisse o calmo funcionamento no mundo. Percebi confusamente que ali, no teu sorriso, ou olhos, ou boca, estava a explicação do sol filtrado em listras entre as folhas da árvore e a perfeição do som agudo que tirei da folha de fícus enrolada como uma flautinha vegetal, instrumento que hoje os garotos não conhecem mais...
(Resposta a uma moça 50 anos depois - Jabor - Amor é prosa, sexo é poesia)