terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O tempo
















José Luís Peixoto

Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. O ódio transforma-se em tempo. O amor transforma-se em tempo. A dor transforma-se em tempo. Os assuntos que julgamos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo. Mas, por si só, o tempo não é nada, a idade não é nada, a eternidade não existe.

Sobre o(a) autor(a):
Escritor e dramaturgo português.
Nasceu em 1974.
Tem seus romances publicados em 12 idiomas.


Tempo...passe por favor, passe...me carregue pra bem longe daqui!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009














Eu não existo sem você
Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim


Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos me encaminham pra você

Assim como o oceano
Só é belo com luar
Assim como a canção
Só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver
Sem ter amor não é viver

Não há você sem mim
E eu não existo sem você

© Editora Musical Arapuã




domingo, 29 de novembro de 2009

O sentido das coisas!


















O sentido das coisas


Quando foi que deixei de sentir?
De desejar, decidir
Será que com o tempo desaprendi de brincar
Me deixei controlar
Conheci a multidão
Mas você não está lá...
Onde é que está?
O sentido das coisas
O desconforto do amor
Se eu fosse apenas uma tarde quente
Você beberia em mim o gosto de sonho gelado
Tenho alma em temporal
Onde é que está?
O sentido das coisas?
Eu cresci e meus pesadelos ainda falam
Porque me falta sentido...
Me falta tua pele
Tua fala
Teu gozo
Teu olhar
Estou na estrada
Buscando todos os sentidos
Mas a única coisa que faz sentido
É esperar por você...
Esperar por você...
Esperar por você...
Entre se quiser
Mas não se esqueça
Que o sentido de todas as coisas
É vir pros meus braços
E completar a comédia dos raros
Lambi os dedos para degustar a noite que não existiu
É por isso que escrevo
Para fechar a janela da multidão
E te deixar entrar
No meu quarto
Na minha vida
No meu corpo
No meu coração
Na minha alma
Aí sim...tudo fará sentido...
Esperar por você
Esperar por você
Esperar por você...


Drika

terça-feira, 3 de novembro de 2009

PABLO NERUDA















Cartão postal - presente - da amiga Lu que visitou a Casa de Pablo Neruda. Babei.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Eu preciso de uma palavra não dita!















"Quando aquela voz saiu pelo fio do telefone
A muralha do verbo desabrochou em ternura
Ternura entorpece porque esquece os desatinos da sorte
Ternura em hora errada afoga mais que ciúme ou saudade
Com faca amolada nos dias estancados de ausência e exílio
Esquartejei a quantidade bíblica desse laço que chamam amor
Amor é laço de fita
Vaso de vidro
Óculos de grau
Um bonde
Uma enchente
Uma esteira
Febre
Alavanca
Indundação
Gangorra e Gangrena
Amor são palavras cruzadas..."

(Viviane Mosé)



Os sentimentos não têm valor
O que tem valor são os afetos...
Afetar e ser afetado pelo outro.
A palavra Amor sozinha, descontextualizada não tem significado.
O que se diz daquele que diz "Eu te amo" e não faz o amor ser amor...
Mas somente "palavreia".
Mas há aquele que não diz, nunca dirá e nem esperará "Eu te amo"
Mas o corpo reflete o amor, os gestos, os pensamentos, os atos, o sorriso, a voz, o pulsar, o caber, o sentir, o dizer, o sofrer, o calar, o tocar, o entender, o fazer, o molhar...tudo é amor sem precisar dizer Amor.
O amor também diz raiva e remorso,
contradição
impedimento
impossibilidade
caos
frenesi
desconstrução
perspectiva
choque de forças
desestrutura
ondas de confusão...

Drika

"...há gente que se aquece
por dentro, e há em troca
pessoas que preferem
aquecer-se por fora..."

(João Cabral de Melo Neto)




terça-feira, 27 de outubro de 2009

Eu mais eu!


















"...a vida, que vai desaparecer de uma vez por todas, e que não mais voltará, é semelhante a uma sombra, que ela é sem peso, que está morta desde hoje, e que, por mais atroz, mais bela, mais esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não têm o menor sentido. Essa vida não deve ser considerada mais importante do que uma guerra entre dois reinos africanos do século XIV, que não alterou em nada a face do mundo, embora trezentos mil negros tenham encontrado nela a morte através de indescritíveis suplícios."

(trecho do livro " A insustentável leveza do ser", de Milan Kundera).



A TEIA

Tudo emerge ao mesmo ponto
Cerne de uma vida rasgada
Sem notas de músicas alegres
Lá, naquele naufrágio de lágrimas
Construíste tua teia
Fio a fio sem cerimônia
Para me guardares em brancos lençóis
À espera de um milagre de mãos

Coração, pedra...ferro.

À espera de alguém que toque sem derramar sangue
Que envolva sem proferir negras mentiras
Lá, bem no centro da teia...

Te espero

Lave as mãos pois o chão é escuro e,
a alma não encontra paz
Até que tudo esteja limpo
Até que tudo seja morte.
No centro da teia.
Deixa eu te tomar nos braços
E ir aos jardins dos ceus

Não.

Agora, tudo já é morte.

(Adriana)


PARADA CARDÍACA (Paulo Leminski)

Essa minha secura

essa falta de sentimento

não tem ninguém que segure,

vem de dentro.


Vem da zona escura

donde vem o que sinto

sinto muito

sentir é muito lento.

sábado, 17 de outubro de 2009

Amor - A (longe-sem) MOR (morte)















"CONHECER UMA PALAVRA DESDE A SUA ORIGEM É COMO CONHECER UMA PESSOA DESDE PEQUENA".

Friday - Friday, sexta-feira em inglês, vem do alemão antigo Fria (deusa do amor) + daeg (dia) do inglês antigo. Na verdade, trata-se de uma adaptação do latim dies veneris (dia de Vênus). Fria ou Frigg era a deusa nórdica do amor, correspondente a Vênus da mitologia romana, deusa da formosura, do amor e dos prazeres. Coincidência ou não, parece que já na antigüidade a sexta-feira era dia do agito. É ainda curioso observar-se que, com exceção do português, a maioria das línguas ocidentais usam nomes de deuses da mitologia romana para os dias da semana. Também os planetas do sistema solar carregam nomes de deuses romanos.


1º DE AGOSTO - datas importantes...


Não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. O amor não se comanda e não poderia, em consequência, ser um dever.

Dizia Nietzsche: "O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal".

Nietzsche, Kant, Spinoza, Cristo, Pascal, Hume, Bergson, Platão, Sócrates, Aristóteles e tantos outros buscaram a definição do amor. E por que não nós mesmos?

O que é o amor?

O amor é portanto primeiro, não em absoluto, sem dúvida (pois então seria Deus ou a força superior), mas em relação à moral, ao dever, à Lei. É o alfa e ômega de toda virtude.
O amor não é tão desconhecido assim, nem a tradição tão cega, a ponto de ser preciso inventar sua definição. Tudo talvez já tenha sido dito. Falta compreender.

Ou apenas eu não o compreenda...

Pausânias em seu discurso distingue o amor popular, que ama mais o corpo que a alma, do amor celestial, que ama mais a alma que o corpo e é, por isso, "fiel a vida inteira, porque se uniu a uma coisa duradoura", ao passo que o amor aos corpos perece ao mesmo tempo que a beleza destes.

Encontra-se na mitologia greco-romana uma das primeiras formulações do significado do amor através das diferentes descrições do mito de Eros, o deus do amor. Embora a mitologia bramânica(indiana) também descreva a lenda de Kama, o deus do amor.

São várias as versões da história de Eros e Psique. Li a todas que encontrei.

Platão foi um dos mais importantes filósofos a se preocupar com esta temática, dedicando uma obra inteira à importância e ao significado do amor.
Em 385 A.C. compôs "O Banquete", considerado sua mais brilhante criação e um dos textos chaves da cultura clássica ocidental, uma das primeiras tentativas de análise e compreensão do amor ao iniciar a busca para a sua revelação.
Ele descreve o amor como sendo o responsável pela união das duas metades separadas desde a origem do ser humano. Todas as lendas, histórias e alegorias lidas são muito extensas para reproduzi-las aqui, porém são extremamente elucidativas. Segundo Aristófanes, os humanos apenas se sentirão completos quando encontrarem sua outra metade perdida e tal união só pode ocorrer por intermédio da força do amor.
A elevação do amor é uma questão de inteligência. Emoção e razão passam a fazer parte do mesmo fenômeno, o equilíbrio entre esses dois aspectos é o ponto de maior importância para o desenvolvimento do processo amoroso.

Entender as várias versões do mito de Eros me fez entrever alguns aspectos.
O amor também é visto como uma vivência que proporciona um encontro verdadeiro com o Eu supremo e divino, que compõe o sentido da existência e fortalece a sensação de pertencer a algo maior, dando um signficado à existência. Esse amor único também é desligado do tempo, por isso é considerado atemporal e imperecível, algo que não passa, pois tem sua porção divina, como descrito por Fedro.
Segundo Aristófanes, podemos compreender melhor o desejo frequente das pessoas que amam em estabelecer contatos físicos constantes com seus amados, pois esses contatos ampliam a sensação de bem-estar e prazer. O outro se torna seu objeto de prazer. Isso provoca o aumento da tensão e do receio em perder o objeto de prazer, propiciando o surgimento de emoções conflitivas de medo, dor e raiva, características encontradas em muitos amantes.
Ao perderem uma relação de amor, as pessoas reagem, tornando-se frias, distantes e tristes, seus olhos ficam sem brilho, perdem a energia ativa da vida, a dor se torna visível, o corpo se retrai, os gestos se apresentam lentos, a expressão é triste, pesada e sem brilho; há, inicialmente, um fechamento para novos relacionamentos, surge uma desorganização interna, enfim, tendem a perceber a vida como sem graça, sentem-se desmotivadas. A pessoa tem a sensação de estar longe de seu centro, perdida e solitária, como se estivesse morrendo.
O mito de Eros, descrito de formas tão diversas , aponta sua complexidade, importância e dinâmica. Pode-se dizer que a maneira de se expressar e sentir o amor se tranforma ao longo da existência, pois esse é um processo interativo e evolutivo.
Enfim, o amor é essencial para a realização e plenitude da pessoa, porque é o elemento que preenche de sentido a existência e humaniza as relações na medida em que abre espaço de existência para o outro junto a si.

O amor não é completude, mas incompletude. Não fusão, mas busca. Não perfeição plena, mas pobreza devoradora. O amor é desejo, e o desejo é falta. O amor, escreve Platão, "ama aquilo que lhe falta, e que não possui".

O amor é como um desejo que, por sua própria natureza, seria privado do que deseja, e permanece privado mesmo "quando alcança seu objetivo". Não é mais o amor como o sonhamos, o amor saciado e saciante, o amor água-com-açúcar: é o amor tal como é, em seu sofrimento fecundo, em sua estranha mescla de dor e de alegria, como disse Fedro, o amor insaciável, o amor solitário, sempre inquieto com o que ama, sempre carecendo de seu objeto, é a paixão, a verdadeira, a que enlouquece e dilacera, a que esfomeia e tortura, a que exalta e aprisiona.
O que fazer então?
Seguir o amor sem nele se perder, obedecer a ele sem nele se encerrar.

Stendhal diz que "amar é ter prazer em ver, tocar, sentir por todos os sentidos e o mais perto possível, um objeto amável e que nos ama".

Apaixonar-se está ao alcance de qualquer um. Amar não.

Talvez por isto seja tão difícil deixar de amar o que se ama.
Impossível.

"Amar", dizia Alain, "é encontrar sua riqueza fora de si".

Então, virar as costas para o amor - seria abdicar da vida, da felicidade, da unidade, da paz, da riqueza, da esperança, da caridade, da razão e da emoção, da inteligência, do prazer...



Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dia dos professores!



















Todo mundo se lembra de alguns de seus professores. Quem nunca teve pelo menos um que de alguma forma marcou sua vida? Eu tive vários e com histórias diferentes. Esta é minha homenagem.


PRÉ-ESCOLA

Eu me lembro muito bem dela ainda. Calça azul, camisa xadrez branca e vermelha. O mesmo uniforme que usei. Ela contava histórias como ninguém, meus olhos brilhavam quando ela pedia para que pegássemos a almofadinha redonda e nos sentássemos no chão para ouvi-la. Seu nome é (ou era) Wanda, ainda tenho guardada a foto dessa época, alunos em pé organizados pela altura...e ela lá, sorrindo. Eu me lembro dela!

MINHA PROFESSORA DE LITERATURA.

Eu já estava no colegial, ou seja, ensino médio. Tenho amor e sou professora de literatura hoje por causa dela. Nunca vi até hoje alguém que ensinasse com tanto carinho e dedicação. Ela amava ensinar. E se empolgava tanto que um dia caiu em cima de mim, não notou uma bolsa esparramada no chão. Todo mundo riu, até ela. Depois de muitos anos, por coincidência, soube de sua história. Ela criou os três filhos e pagou os estudos do marido em Medicina dando aulas. Mais tarde ele a trocou por uma mulher mais jovem e foi embora. Ainda coincidentemente, veio parar em minhas mãos um livro que era dela de sua época de faculdade. Era um livro rigoroso de estudos de Teoria Literária.....como gosto do assunto comecei a ler. Em quase todas as páginas haviam recadinhos escritos por ela para o ex-marido, naquela época namorado....dizeres amorosos, poesias......fiquei pensando. Ela perdeu muita coisa, mas continuou dando aulas. Quis entregar-lhe o livro, mas ela não aceitou. Disse que ele deveria ficar com a sua melhor aluna. Eu ainda me lembro dela!

QUE MEDO DE GEOGRAFIA.

Eu morria de medo dele. Ás vezes, tinha dores horríveis só de pensar que iria ter aulas com aquela criatura. Professor de Geografia. Eu não conseguia nem respirar. Ele me expulsou da classe por duas vezes. Uma vez porque esqueci minha régua, outra porque retirei um bichinho do cabelo de minha amiga que sentava na minha frente. Ele me olhava sério e dizia: "Você não presta atenção, vá tomar sopa lá embaixo..." Chorei várias vezes. Quando via minhas notas, não entendia. Eu só tirava 10. Tinha a impressão que ele me odiava, mas só me dava 10. Depois de muitos anos, eu já estava na faculdade, sempre o via nos corredores e olhava para baixo para que não me reconhecesse.....com certeza nunca me reconheceria, eu era adolescente naquela época. Um dia, uma professora minha estava no corredor com ele, quando eu passei ela me chamou, queria me perguntar algo banal, nem me lembro o que era. Os dois continuaram a conversar e eu, desesperada para sair dali, mas eles me embutiram na conversa. Em um certo momento ele comentou da precariedade do ensino atual e de como os novos alunos faltavam com respeito ao professor. Eu não me segurei, disse que os tempos eram outros e que, na minha época professor era mais rígido, assim como ele. Ele me olhou por alguns segundos e disse:"Você foi minha aluna", ao que prontamente concordei, não tinha como escapar. Contei-lhe minhas experiências e minhas impressões sobre ele naquela época. Ele escutou e soltava gargalhadas....no final, somente falou com ar de satisfação: "Por isso você está aqui, na faculdade, tenho alunos que estão presos ou já morreram". Nunca esqueci. Ele me abraçou. No ano seguinte morreu de um enfarto fulminante, já estava com a idade bem avançada. Eu ainda me lembro dele.

NA FACULDADE ELA FLUTUAVA MAIS QUE ANDAVA!

Meu 1º dia de aula na faculdade. Ela entrou como um anjo, flutuava. Tinha seus 60 anos mais ou menos, mas parecia uma jovem, seus olhos, sua voz, seus cabelos...tudo nela soava bem. Eu tinha muitos sonhos, a construir e já desfeitos também. Estar ali representava muito para mim. Ela leu em voz alta "Felicidade Realista" de Cecília Meireles, que até hoje me acompanha. Ela me ensinou que ler é voar na vontade, inventar momentos e ensinar o amor pela leitura é para poucos. Eu tive grandes mestres. Ainda me lembro dela.

EU SOU PROFESSORA. GRANDE RESPONSABILIDADE. TENHO QUE ESCREVER MINHA PRÓPRIA HISTÓRIA. SERIA BOM PODER SER PARA MEUS ALUNOS O QUE MEUS PROFESSORES FORAM PARA MIM. TALVEZ ELES NÃO SAIBAM, MAS ME ENSINARAM MUITO MAIS DO QUE PALAVRAS.
UM DIA, MINHA PROFESSORA OLHOU PARA MIM E DISSE - QUANDO NINGUÉM MAIS ACREDITAVA - "VOCÊ VAI LONGE FILHA... AINDA NÃO CHEGOU A SUA HORA DE DESISTIR. DEUS VAI TE DEIXAR AQUI MAIS UM POUCO. CONFIE". ELA MUDOU MINHA VIDA.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

















...Hoje, mais de 50 anos depois, vou dizer o que sentia por você. Você foi o que eu imaginava o que seria uma "namorada". Você despertou em mim um tremor novo, a primeira emoção do que mais tarde vi que chamavam "amor". Em uma tarde cinzenta, em frente ao portão de sua casa, eu senti uma alegria inesquecível como se tudo ali estivesse no lugar perfeito: a brisa leve da tarde, a paz da rua, o silêncio sem pássaros, você encostada no portão marrom do jardim. Não sei por que, senti uma felicidade insuportável, como se ouvisse o calmo funcionamento no mundo. Percebi confusamente que ali, no teu sorriso, ou olhos, ou boca, estava a explicação do sol filtrado em listras entre as folhas da árvore e a perfeição do som agudo que tirei da folha de fícus enrolada como uma flautinha vegetal, instrumento que hoje os garotos não conhecem mais...
(Resposta a uma moça 50 anos depois - Jabor - Amor é prosa, sexo é poesia)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Teus lábios são labirintos.



Refrão De Bolero
Engenheiros do Hawaii
Composição: Humberto Gessinger

Eu que falei nem pensar
Agora me arrependo roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão

Mas eu falei nem pensar
Coração na mão
Como um refrão de um bolero
Eu fui sincero como não se pode ser

E um erro assim, tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira
Ele consegue nos achar num bar

Com um vinho barato
Um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada
No espelho do banheiro

Teus lábios são labirintos
Que atraem os meus instintos mais sacanas
O teu olhar sempre distante sempre me engana
Eu entro sempre na tua dança de cigana

Eu que falei nem pensar
Agora me arrependo roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão

Mas eu falei sem pensar
Coração na mão
Como o refrão de um bolero
Eu fui sincero, eu fui sincero

Teus lábios são labirintos
Que atraem os meus instintos mais sacanas
O teu olhar sempre me engana
É o fim do mundo todo dia da semana...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A Dama das Camélias





"Primeira lição da psicanálise: se você quiser descobrir segredos, preste atenção nas coisas pequenas, aquelas coisas que ninguém nota. É nelas que se revelam os segredos".

(Rubem Alves)

Minha relíquia. Edição de "A Dama das Camélias" de 1922.
Sua história é de abandono. Após a morte do irmão da minha avó, todos usurparam os mais singelos objetos e resquícios de sua existência. Mas o livro permaneceu.
Me foi entregue pela minha avó que sabia de meu gosto pela leitura. Ninguém o quis.
Ninguém ousou saber do amor que continha nele. Das juras trocadas. Compartilhadas.
Da morte da amada. Da mais triste e bela história de amor que já li. Já li muitas.
Ele é meu. Um dia, talvez quando eu não estiver mais aqui, alguém o encontre como eu.
Que o guarde como eu. Que o leia como eu. Não para dizer que tem. Mas para conhecer o amor no livro - já que na vida ele é tão diferente.

Ninguém nunca estará sozinho se estiver acompanhado de um livro.
Um dia, morrerei contigo - Dama das Camélias - mas não por amor a nenhum homem - mas pelo rio da vida, que flui e sintetiza toda a existência - a Morte !!!

domingo, 30 de agosto de 2009

PATINHO FEIO






Meu primeiro livrinho - em carne e osso - em páginas e letras.


Sem barulho. Não faça barulho.
Ela aprende a andar nos corredores frios do hospital.
O dentinho sai sem testemunhas. Mas ela sente.
Caminha com o livrinho nas mãos como um tesouro.
Não sabe ler. Mas reconhece as letrinhas. As imagens.
Por que o patinho é diferente?
Ele é seu amigo. Seu companheiro.
A menina caminha. Uma letra aqui, outra ali. Quatro anos.
Cada olhar diferente na escola, cada palavra dita, cada suspiro - ela e o patinho sorriam.
Um dia, quem sabe, sua família a encontraria - a verdadeira - a estrangeira.
O patinho deve ter crescido e, algumas vezes, ainda encontra pessoas que o definem, que o olham de soslaio, que o diferenciam. Nem toda a inteligência do mundo seria capaz de precisar o que o patinho já viveu, já sonhou ou já morreu.
Mas as pessoas são crueis em seus receituários.
O patinho foi dependente uma vez só na vida: foi dependente de sua própria vida - ou da morte ! Mais nada.
A primeria dependência foi de afeto - afeto este que ele tem e de sobra. A vida é o próprio afeto. Seu primeiro sonho: não morrer.
Morre lentamente quem deduz mediocridade no outro sem conhecê-lo.
O patinho tem motivos de sobra para nem saber o que é auto-estima, mas ele a tem.
Na bondade de ver as pessoas,
Na confiança das palavras,
Na luta pelos pequenos,
Na doce companhia dos enfermos,
Na delicadeza das flores,
Na suavidade do toque,
Na beleza das cores,
No entardecer dos amigos,
No ritual de beleza,
Na descida do salto,
No silêncio dos cabelos,
Na delícia dos aromas,
No corpo malicioso,
Nos olhares masculinos,
Nas gentilezas oferecidas,
Nas tentativas de aproximação
Na capacidade de amar.
Ele a quem primeiro descobriu-se diferente. Sozinho. Não querido.
Ele a quem todos diziam: não vai vingar.
Hoje, soberbo...arranca olhares - e de propósito promove suspiros.
Não. Você não o conhece.
Ele poderia te ensinar a usar a inteligência.
Pois ela esqueceu a coisa mais importante: não ferir quem nasceu ferido, mas curou-se através da luta.

sábado, 29 de agosto de 2009


















Eu rego um amor todos os dias. Eu rego a mim mesma. Ritual.
Sou o motivo de minhas madrugadas perdidas. Meus anseios.
Minhas buscas. Minha chegada. Agora é afastar as cortinas e deixar o sol entrar.
Por que sempre chove? Ainda nem me livrei da bagagem. Das fotos. Dos cacarecos.
Do sorriso mofado. Do pedido de socorro. Da ilusão desfeita. Do desencontro.
Ainda bem o desencontro. Pois nasce um novo encontro. Quando? Quem sabe!
A graça é não saber. É esperar como quem descuida de desejar.

"Gosto dos venenos os mais lentos. As bebidas as mais fortes. Dos cafés mais amargos.
E os delírios mais loucos. Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer: e daí, eu adoro voar." Clarice

Eu me multiplico no escuro. Minto a mim mesma dizendo que estou feliz neste lugar. Ninguém é feliz no mesmo lugar.
Viajo em mim para apagar a fúria da mesmice. Mesmice de outros. De olhares. De palavras. De sabores.
Nunca desejei minha morte, mas há algo em mim que precisa morrer.
Essa espera de alguém que talvez não exista. Precisa morrer.
Somente assim poderei parar de esperar e deixar que alguém entre em mim.
Entre rasgado. Farto e faminto. Surrado de também esperar.
Pessoas sempre nos deixam sozinhos. Sem nenhuma palavra. Ponto.
Um gole de vinho e minha sina figura à minha frente. Sou uma estranha a mim mesma.
Morro todos os dias uma morte prematura de desejos guardados em velhas caixas desbotadas.
Juntei minhas mãos e tentei ler suas linhas. Nada falam. Alguém me lê em algum lugar.
Talvez nunca o encontre - mas ele existe. Só preciso parar de esperá-lo.
Talvez a vida seja isso. Uma moldura dourada, um retrato solitário na parede de uma pensão barata.
Uma música sem refrão. Uma árvore curva e de raízes fortes. Um camafeu antigo sem relevo.
Um silêncio no lugar do grito. Uma fome num lugar deserto. Um rastro desfeito em cacos.
Uma janela emperrada. Um vestido surrado em dia de baile. Uma doce palavra de alguém distante.
Esse desencontro é o sabor. É a verdade de se viver. E eu que era tão apaixonada por mim.
Agora me despeço entre luzes de um palco minúsculo. Não. Eu não choro.
Não, porque ainda não me fiz em primavera.
Estou na fila para me devorar.
Devora-te Adriana.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A MENINA














A menina triste me comoveu.
A tristeza da menina me comoveu.
A tristeza sempre me comove.
Sentada em um banquinho verde e marcado pelo tempo, ficava horas roendo as unhas e balançando os pézinhos calçados com um sapatinho azul surrado.
Vez ou outra levantava os olhos e caminhava lentamente com eles para o outro lado da calçada. Meninos brincavam felizes com suas bolinhas de vidro.
Não levantava. Não brincava. Não sorria. Nem chorava. Somente existia. Existia para si mesma, numa solidão desconcertante e fria.
Era uma criança sentada no banquinho da calçada.
Quando alguém a chamava de dentro da casa, não falava, se levantava e ia com o andar de quem não quer chegar.
Algumas vezes tentei procurar-lhe os olhos. Desviava das bolinhas e dos meninos barulhentos, e subia na calçada na esperança de saber-lhe algo.
Dias, semana e meses.
Era uma menina sentada no banquinho da calçada.
Um dia, notei que o banquinho estava vazio.
__ Onde está a menina? Ninguém sabia.
Não entendia por que ela teria de ir embora, por não entender da tristeza que tinha.
Uma senhora que estranhava a menina, adiantou:
__ Já foi tarde a menina. Não era de bons modos. Não conversava com ninguém. Muito estranha a pequenina. Não era boa companhia.
Fui embora. Troquei de rua. Mudei de calçada.
Mas até hoje aquele banquinho e as brincadeiras que ela não participava ficaram na memória.
Procuro entender por que ninguém brincava comigo.
Sou uma mulher sentada no banquinho das lembranças.
Esperando o dia que alguém me faça companhia.













Misread
(Kings of Convenience)

"...How come no-one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
I guess it's up to me now
Should I take that risk or just smile?
What do you know
It happened again
What do you Know???"

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

ENVELHECER














Eu vou envelhecer.
Certeza.
Vou envelhecer para meu filho. Vou envelhecer para meus vizinhos que nunca vejo. Vou envelhecer para meus alunos, que ainda dirão que estou conservada. Vou envelhecer a cada choro que teimo em derramar. Vou envelhecer para as ruas que passo todos os dias.Vou envelhecer em cada medo mal curado. Vou envelhecer ao aproximar meus olhos dos livros com dificuldade, porém os lerei mesmo assim. Vou envelhecer para meu dentista e médico. Vou envelhecer tomando banho de sol, de mar, de vento. Vou envelhecer ao assoprar o chá com menos força que antes. Vou envelhecer ao escutar minha música favorita de infância. Vou envelhecer quando me despedir dos amigos e demorar a revê-los. Vou envelhecer para meus colegas de trabalho. Vou envelhecer em minha melhor risada. Vou envelhecer na aparência e também nas fotos que ficarão amareladas. Vou envelhecer quando não for compreendida. Vou envelhecer quando for compreendida. Vou envelhecer ao passear de mãos dadas. Vou envelhecer ao fazer anotações. Vou envelhecer ao sentir saudades. Vou envelhecer ao não querer envelhecer. Vou envelhecer quando adoecer. Vou envelhecer para o espelho. Vou envelhecer como uma pérola que perdeu o brilho ou como uma criança que envelhece ao escrever. Vou envelhecer para os outros. Todos os outros.

Eu é que não saberei nada disso envelhecendo com ELE.

(Inspirado no texto de Fabricio Carpinejar)



Vou envelhecer quando minhas mãos mudarem seu curso natural.



E ainda assim serei eu...

sábado, 22 de agosto de 2009

CONHECI MUITAS PESSOAS, MAS AINDA NÃO ENCONTREI COMPANHIA !


Mantenho sempre viva no coração a doce sensação de liberdade, sabendo que posso sair deste cárcere quando quiser.


"...que a vida humana é apenas um sonho já ocorreu a muita gente, e esta ideia também me persegue por toda parte. Quando vejo os limites que aprisionam a capacidade humana de ação e pesquisa; quando vejo que toda a atividade se esgota na satisfação de necessidades cujo único propósito é prolongar a nossa pobre existência e, também, que toda a tranquilidade em relação a certas questões não passa de uma resignação sonhadora, pois as paredes que nos aprisionam estão cobertas de formas coloridas e perspectivas luminosas...isso tudo...me deixa estupefado! Mais de pressentimentos e desejos que de raciocínios e forças vitais. E então, tudo flutua ante meus olhos, sorrio e sonhando penetro ainda mais neste mundo".














"Ela não vê, não sente que está preparando um veneno que vai aniquilar a ambos; e vou saborear com volúpia a taça em que ela me oferecer a ruína. De que me serve o ar de bondade com que quase sempre me olha...Quase sempre?..."

( Trechos retirados do livro "Os sofrimentos do Jovem Werther", de Johann Wolfang Goethe)

Eu sou Werther. Que livro!
Sempre que leio algum livro me vejo em alguma coisa deles. Depois passo para outro e outro...e por aí vai.
"Werther, com todo o vigor de sua
juventude, ousou morrer em nome do sentimento mais sublime e mais humano; mais harmônico e mais desestruturado; causa de nossas maiores felicidades e de nossos maiores sofrimentos.
O que foi concedido a toda a humanidade/ Quero usufruir em meu próprio ser".
Antigamente, quando alguém dizia para mim que eu sou única (ou na brincadeira que me fizeram e jogaram a forma fora) eu achava graça ou tomava até como um elogio.
Confesso que ultimamente isto está me preocupando. E se eu for um ser criado para usufruir eternamente da solidão?
Werther tomou a decisão final, o assassinato de si mesmo, pois não havia mais possibilidade de imaginar uma vida compartilhada com quem mais se ama.
Goethe no final da adolescência, certa vez afirmou: "Que sorte ter um coração alegre e livre! (...)
Talvez meu coração devesse perm
anecer alegre e livre para sempre.
O amor pode levar à destruição, a não ser que duas pessoas renunciem o peso da liberdade pela companhia verdadeira. Não a companhia puramente corporal, pois esta não me interessa - é uma consequência. Mas a companhia de alma. Talvez esta não exista, pois é a que mais as pessoas temem. Alguém que do outro lado te compreenda e te veja como realmente você é. Sem amarras ou máscaras.
Tem coisa mais apavorante e deliciosa do que isto?

Alguém me vê?????


sexta-feira, 21 de agosto de 2009















"O homem dos meus sonhos está quase desaparecendo agora.
Aquele que eu criei em minha mente.
O tipo de homem com o qual toda mulher sonha lá no fundo...e que mais secretamente atinge seu coração.
Quase que posso vê-lo agora diante de mim.
O que eu diria a ele...se ele estivesse realmente aqui?
_Perdoe-me!
Nunca tinha conhecido este sentimento.
Vivi sem ele por toda a minha vida.
É de se admirar, então, que tenha falhado em reconhecê-lo?
Você...o trouxe a mim pela primeira
vez.
Há algum modo de que eu possa lhe dizer como a minha vida mudou?
Qualquer modo de fazê-lo saber que doçura você me deu?
Há tanto a dizer que não consigo encontrar as palavras.
Exceto estas...
EU AMO VOCÊ!

(Do filme "Em algum lugar do passado").



















Achei esse livro no Sebo. Não acreditei quando o vi. Eu sou completamente apaixonada por esta história. O que pensar de um homem que atravessa o tempo para encontrar seu amor?
Hoje, pessoas não atravessam preconceitos, distâncias, compromissos, sonhos e nem renúncias por um amor.
Somente aqueles idealistas românticos que acreditam que alguém - mesmo distante e desconhecido - ainda os esperam para viverem aquele amor de cinema.
Um dia, acordo idealista romântica...
Outro dia, acordo racionalista assumida...
Qual das duas sou eu?
Se alguém me perguntasse diria que sou uma idealista amante de mim mesma e protetora fiel do meu coração.
Há quem acredite que meu coração está em algum lugar do passado.
Mas é no futuro que eu quero viver.
Talvez alguém me espere no futuro para ouvir blues e me fazer companhia.

"Ser sozinho é sumamente perfeito, absoluto, pleno, varanda virada pro nascente, acolhedor, cheio, dá conta de si em meio alheio e a sós.

A moça da janela alta do apartamento pra cima do meu suspira o tempo perdido solitariamente. Nas contas dela, só com mais um dá lucro."

(Leida Lusmar)

OS DIAS SÃO TODOS IGUAIS

ESTOU FADADA A VIVER REPETIDAMENTE CADA 24 HORAS.

Onde estará meu RICHARD..........no PASSADO ou no FUTURO?




domingo, 16 de agosto de 2009

PICADEIRO


Filme: Le Fabuleux d'Amélie Poulain













"A sorte é como o Tour de France. Esperamos tanto, e passa tão rápido... quando chega a hora, precisa saltar sem hesitar".

E antes que possas acreditar que me encontrará
derrotada
indisposta
chorosa
infeliz
e apática...
Saiba que sempre sentirá a pousar

sobre nossos ombros
a mão que insulta a beleza.
Eu te aconselho:
apague a luz do picadeiro
não faço parte do teu circo,
nem de tua infelicidade,
muito menos de tuas más escolhas.
Hoje quero dançar na pista
Quero ser vista
Bem no meio da plateia
Cabelos para os lados
Vestido vermelho
Quero almoçar na cama
Ler Drummond até decorar os poemas
Quero uma mochila e um jeans surrado
Uma segunda-feira atrapalhada
Quero beijos pornográficos - sem amor...
Pois o amor me lembra você.
Quero distância de chatices alheias
Virar para o lado e não sonhar mais
Não daquele jeito que você me prometeu
Prometeu e não cumpriu
Mas quem espera promessas? Só um louco...
Quero quero e quero

E de tanto querer coisas
Criei minha dança em vermelho
Na frente do espelho
Minha plateia sou eu.