sexta-feira, 22 de março de 2013

quarta-feira, 13 de março de 2013

MOINHOS DE VENTO



As pessoas vão se calando,  vão ficando esses silêncios...
esses vazios irreparáveis,  até que um dia o tempo engana e diz que não fazem mais sentido, mas ainda são tão sentidos… sempre.

Minha vida é uma festa, mesmo quando estou triste.
Eu estava vazando, essa era a sensação.
De escoamento, de água, de qualquer coisa além do que sou  e do que posso ser.
Depois de conjugar o silêncio, me peguei falante.
O maior presente que alguém pode dar a si mesmo é a inteireza.
Mas é preciso coragem para assim ser, porque toda inteireza nasce de  uma espuma chamada risco.
Estar inteiro é se abandonar o tempo todo para que a possibilidade nos engravide de sonhos. Está inteiro quem não sabe para onde ir, mas, mesmo assim, vai.
Está inteiro quem ri sem motivo e quem não se apavora diante de um dia feio.
Para ser inteiro é preciso um bocado de loucura. Afinal, o mundo é feito de  partes e o diferente sempre padece no paraíso perdido da ausência de reflexo.
Para ser inteiro é preciso ser amante! Amante de si mesmo, da obra que escreve, da peça que apaga, da história que conta, do sorriso que não sai ou da urgência de viver.
É preciso ser amante de quem atravessa o caminho ou simplesmente aparece para partilhar insônias. É preciso ser amante de alguém escolhido, do próprio amor, do caminho.
Para ser inteiro é preciso saber dizer 'não'. Não para as sobras, rimas pobres, dobras.
Aquele que é inteiro não precisa fingir o tempo todo.
Ser inteiro é o melhor presente que podemos dar a alguém, pois não há nada melhor do que o reflexo da inteireza perdida na pupila de quem nos mira.
Inteiro é quem fica rosa de amor e vermelho de vergonha. Quem se veste de amarelo em dia cinza.
Quem nunca viu a neve, mas conhece o seu gosto na ponta da língua. Quem não liga se o vento despenteia os cabelos. Quem engole a vida garganta abaixo e  quem não enjoa com o balanço da realidade, quem não deixa para amanhã o que pode aprender e melhorar hoje. Quem se rende a própria pequenez, unha encravada da condição humana, e por  render-se torna-se tão grande quanto a imensidão do mar. Quem deixa de querer para simplesmente fazer.

terça-feira, 5 de março de 2013

MIL PARTIDAS





Tenho me despedido aos poucos. Tão sutilmente que talvez ninguém perceba. (Sutilezas são coisas que poucos ainda têm percepção.) Cada dia da minha vida tem sido o último. Cada texto tem sido uma carta de adeus, cada frase uma confissão de amor. “Mil partidas formaram-me desde a infância, devagar”, teria dito Rilke e eu não diria melhor. Tenho pensado nessas coisas que as pessoas sentem, mas não dizem. E às vezes me pergunto se realmente sentem. Não sei a resposta. Posso ter sido eu que vim com defeito e sinto essas coisas e não encontro quem também as sinta. Não é questão de compreender, é sentir. Ouvi algumas vezes me dizerem que sou única. E já escrevi também, plagiando inconscientemente não sei quem, que não quero ser único.  E eu digo que pra mau entendedor nem uma vida inteira basta. Não sei se faço parte dos bons ou maus entendedores.
Tenho pensado bastante na palavra “doçura”. Ouvi essa palavra algumas vezes também, ao se referirem aos meus olhos, ou a mim, ou algo relacionado a mim. Caio F. dizia que “há pessoas que são como a cana, mesmo postas na moenda, reduzidas a bagaço, só sabem dar doçura”. Sou uma dessas pessoas? Minha resposta não existe. Talvez não seja doce, mas agridoce. Doces enjoam, ácido corrói. Há abismos sem fundo dentro de mim. Há horizontes sem fim dentro dos meus olhos. E me lanço, nos abismos e aos horizontes. Não é pretensão, mas acho que poucas pessoas chegaram perto de me ver, outras apenas desconfiaram, outras talvez tenham visto e se atraído, em seguida fugido. É… Devo ser assustadora. Poucas chegaram suficientemente perto. Se é que chegaram. Cada um por si, diriam. Ou, Caetaneando, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. E só cada um. Que não se abre verdadeiramente para que outro descubra, o descubra. Entre realmente na sua vida, dentro de si, de seu universo. Então temos sete bilhões de pessoas únicas. E sozinhas. Cada um por si… 
Tenho deixado as janelas abertas. Na verdade, sempre as deixei. Queria, antes de partir, que não sei quando será, mas poderá ser a qualquer hora, a herança a quem se com isso se importe, de dizer que o amor realmente existe. Não porque o encontrei, mas porque amei. Mas seria injustiça e ingratidão dizer que não o encontrei, ou que realmente amei. Também fui amada. Seja como for, há algumas perdas irreparáveis no caminho. Pessoas que me fazem tanta, mas tanta falta. Tão importantes. Muitíssimo importantes. Insubstituíveis. Únicas. E como dizia Adriana Falcão, “‘único’ é tudo aquilo que pela possibilidade de virar ‘nenhum’, pede cuidado”. Talvez seja isso… Passei minha vida tentando mostrar a elas isso. Quantas vezes disse: “é preciso tratar como precioso o que é precioso”. E me eram tão preciosas. São. Mas, mesmo que tenham entendido (?) isso, se foram. Mil partidas, como disse… Quis sempre e tanto mostrar a necessidade de urgência em viver, da importância de certas coisas. Do meu jeito torto, do jeito que fui aprendendo, aos trancos e barrancos.
Tenho essa loucura… Sim, loucura. Que outro nome?  As pessoas falam, mas ninguém de verdade quer isso. A maioria sequer move uma palha. Ninguém que queira se aprofundar, se abrir, viver, enfim… E, a qualquer momento, será a minha vez de partir. Não fará diferença, eu sei. Mais um pouco e será como se eu jamais tivesse existido. Ao ir embora, não existirá mais nenhuma prova que alguma vez existi.
Eu existo.

DE UMA CRIANÇA QUE NASCEU ESCREVENDO


De uma criança que nasceu escrevendo.
Drika.


Muitos não sabem por que estão aqui. E isso torna as coisas um tanto difíceis em boa parte das vezes. Ou as torna muito superficiais e sem sentido. Sem sentir, enxergar ou saber no que acreditar, existem apenas. Vão levando a vida. O que não é o mesmo que viver. Trabalham, pois é preciso pagar as contas. Então dormem para trabalhar. Alimentam-se para trabalhar. Vestem-se para trabalhar. E o único fruto do trabalho, muitas vezes árduo ou enfadonho, é o inseguro conforto ou superficial lazer que têm para esquecer do dia a dia e que precisam trabalhar. As poucas tréguas muitas vezes passam tão rápido, que nem conseguem percebê-las. A disputa na segunda-feira. Não sabem quem eles mesmos são.
Acontece que… Não é que não saibam quem são. Não é que não saibam por que estão aqui. Apenas se esqueceram disso. E guardaram tal conhecimento tão bem escondido que pode parecer que nem existe. Mas existe. E, existindo, mas não tendo acesso a essa informação, a esse tesouro… Parece injusto. Muitas pessoas procuram a felicidade em coisas tão distantes, algumas procuram o sentido no mundo lá fora, para fazer sentido dentro de si. E não conseguem. E não encontram. O mundo e toda a vida nele continua, em sua enorme diversidade, multiplicidade e grandiosidade. Não quer nos explicar nada. E isso, mais uma vez, parece injusto. Mas o mundo não quer nos explicar nada porque não é necessário. Nada nos é inacessível. Ninguém foi pego de surpresa ao nascer aqui. 
“Conhece-te a ti mesmo” talvez seja um dos mais sábios conselhos dados pelos sábios. Conhecendo-nos a nós mesmos, cada vez mais profundamente… Chegaremos ao que jamais precisaria ter ficado oculto tampouco escondido. Ao que deveria ser (e é) a coisa mais natural e simples de ser alcançada. A nossa fonte. Quem nós realmente somos. Através dela nos lembramos de onde viemos, onde estamos e para onde queremos ir. Reencontramos o fluxo natural de beleza, alegria e magia ao qual pertencemos e fazemos parte. E o expandimos através do nosso magnífico poder de criar. Coisas belas, alegres, mágicas. Essa fonte, tão poderosa e sem limites, é o que somos. Alguns a chamam de “Deus”. Outros de “Universo”… “Eu Interior”. Seja qual o nome, estão falando todos da mesma coisa. Somos Deus ou parte dele, somos o Universo e somos o Eu Interior. Sem perder nossa individualidade e nossa rica personalidade, experiência e particularidades, que nos fazem únicos, somos parte de um todo, imenso, sem limites. Que está em expansão e se expande através de nós. Através de nossas vivências, nossas criações, nossas escolhas.
Não há nada que não possamos ser, fazer ou ter… Lembram-nos os espíritos dos sábios. A base de toda e qualquer vida é a liberdade. Plena. Nunca, em nenhum lugar ou tempo, seremos julgados pelo o que quer que seja que tenhamos escolhido ser, fazer ou ter. O objetivo da vida é a felicidade. O bem-estar. Que faz parte desse fluxo natural, poderoso e belo onde tantas vezes o vivenciamos, mas muitos escolhem esquecê-lo. O universo está repleto de beleza e magia. A natureza, os arco-íris, as cachoeiras, as florestas, as flores, as montanhas, o mar. Os animais, os seres humanos. Cada vida nele. E estamos todos conectados. Essa energia que se expande e cria mundos e universos. Somos também nós. O aprendizado, a expansão… É o resultado dessa jornada bela e diversa que jamais terminará. Jamais o aprendizado cessará. 
Não viemos para salvar o mundo. Não viemos para mudar ninguém. Ninguém que não a nós mesmos. E escolher, decidir o que realmente queremos. O que nos faz bem. E então nos focar nisso. E agir somente a partir disso. Desse estado de conexão. De milagre. De magia. Trabalhamos para criar. O trabalho tem outro sentido, é claro. E o fruto do trabalho é realmente sagrado. Mas a vida é muito mais. Viemos para amar. Para respeitar a liberdade. E querer a liberdade do outro tanto quanto queremos a nossa.  Como já disse outro espírito sábio, muitas vezes nos emocionamos diante da beleza. Da arte. Do milagre. Da vida em todo seu esplendor. Numa música, num olhar, num gesto… No alto de uma montanha vemos a natureza e nos emocionamos. A beleza sobrecarrega nossos sentidos e choramos. E esse choro de plena felicidade é porque acabamos de ser reconhecidos. Cada rocha, cada árvore e até mesmo o vento que sopra em nossas faces sabem quem somos e chamam nossos nomes. Parte de toda a Criação somos nós e acabamos de encontrar a nós mesmos. E esse momento de pleno milagre… Não precisa ser apenas um momento. É possível (e natural) que o milagre seja a nossa vida e esteja nela todo o tempo.
Costumo dizer que os raros se atraem. Na verdade todas as experiências e pessoas que tivemos, temos e teremos em nossas vidas… Nós as atraímos. Quando digo sobre os raros, na verdade estou dizendo das pessoas que sentem e enxergam como eu. Mas não quer dizer que as outras são menores ou maiores. São diferentes. E têm suas verdades que também são… Verdade. E é preciso respeitar e apreciar as diferenças. Aos que atraímos… Muitas vezes sinto como se fôssemos de um clã… Uma família… Não sei dizer o nome. Mas viemos do mesmo lugar e queremos coisas semelhantes. Vemos coisas semelhantes. Sentimos coisas semelhantes. E, espalhados por entre sete bilhões de pessoas, algumas vezes os olhamos e junto com o olhar algo em nós se reconhece imediata e inequivocadamente. Tendo consciência disso ou não, esses serão nossos irmãos e irmãs. Nossos filhos e filhas. Nossos amigos e amigas. Nossos pais e nossas mães. E assim nós seremos, para elas.  Nelas e em nós encontraremos e encontramos o amor. O amor que amamos. O amor com o qual somos amados. Por isso sentimos a necessidade, o desejo e a vontade de caminharmos juntos. De compartilhar a felicidade. E o milagre. A vida.
É da escolha de cada um, porém, com quem deseja caminhar e compartilhar sua vida. O fato de existir essa conexão não necessariamente implica que isso acontecerá. Cada um faz suas escolhas e decide o que acredita ser melhor. E será o melhor. Não viemos aqui para decidir por ninguém. Nem escolher por ninguém. Nem para julgar ninguém. Viemos aqui, em total liberdade, cada um de nós, para sermos felizes e respeitar profundamente a liberdade de cada um, a forma que escolheu e escolhe ser feliz. Ser feliz… Essa é a nossa única missão. Se assim também escolhermos. Tudo esteve, está e sempre estará bem. Jamais perdemos ou perderemos alguém ou o que quer que seja. Isso é impossível. Estamos todos aqui. Grandiosos e belos… Para sermos tudo que podemos ser. E escolhermos ser. E fazermos parte do grande milagre. Que se expande e vive através de nós. E nós através dele.
(Então… Quando digo: “eu vejo você”. É mais do que ver. É saber quem eu mesma sou. E saber quem você mesmo é. Minha alma encontrou a sua. Minha fonte reconhece a sua. E vibra com isso. Vibra por isso. Vibra junto. À essa conexão… Alguns chamam de “amor”. Impossível explicar ou dar nomes. Mas talvez seja o melhor nome que encontramos. Muitos estão tão longe de suas próprias fontes que dizem que isso não existe. Ou quando o sentem, preferem esquecê-lo como algo impossível de manter. Têm medo. E é uma pena… Porque Deus nos criou ousados, livres de medos. Sabe que podemos tudo que quisermos. Os velhinhos se beijando na praça, após uma vida inteira de amor, entendem isso. E que o amor pode sim ser mantido e vivido e cultivado. E cresce tanto. Porque é a coisa mais natural de acontecer quando essa conexão existe e ambos decidem vivê-la. Quando decidem inundar de alegria a vida um do outro. Compartilhar a vida, a magia… O milagre. De toda a criação.)
Essa é a minha definição de VIDA.
Como não bendizê-la?
Fato é que as mediocridades cotidianas nunca macularão meu ser. As mentiras contadas são propósitos egoístas, amedrontados de seres que ainda não conceberam o valor real dos sentimentos e da consideração.
Raros se atraem. Raros existem.
E eu sou feliz por isto.
De hoje em diante, pouquíssimos terão a permissão para adentrar o meu mundo.
Porque, fechar as cortinas, também é viver.