segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

2011


















Talvez eu não consiga deixar de ser eu porque essa coisa toda que há em mim, e que não sei o que é, não sossega.
Eu posso até fingir, mas não quero, não posso.
Pelo menos começo o ano sozinha - mas verdadeira - inteira.
Acreditei ter visto uma luz do outro lado do rio e quando acordei estava assim, à deriva, sem remo, sem comida, sem colete salva-vidas, embalada apenas pela paisagem de flores ribeirinhas, florzinhas que sorriam para mim como se soubessem um segredo antigo como o mundo "ELE me deixou".
Começo 2011 à deriva. Perdida.
Na outra margem do rio, a fumaça, réstia do que ainda não se consumiu, além do eco de uma voz me chamando, quase um suspiro.
Cravo meus sonhos na água e sigo. Creio que nem tudo está perdido. Nada se perde quando o que se ganhou foi a possibilidade de gostar de alguém.
Daqui para frente quero acordar com um surto de amor-próprio. Daqueles em que inacreditavelmente sentimos que tudo está em sua perfeita ordem. Daqueles em que a gente olha em volta e diz para si mesmo: nada precisa mudar.
Não sei se foi o café, os livros, os filmes ou se foi minha irmã dizendo "ei, você é linda!". Sei que de alguma maneira me vi salva de um possível afogamento e acordar viva me fez perceber que nada, absolutamente nada me fará me perder de quem eu sou.
Quando este tipo de surto acontece, as coisas sem sentido ou explicação perdem a importância. Freud chama isso de sublimação. Por isso sempre preferi Sartre...Ele chamaria de transcendência!
Quando esse tipo de surto acontece nada é capaz de nos arrancar o gozo de rirmos de nossas trapalhadas e quedas. E somente quando conseguimos rir de nossos tropeços acordamos para dentro. E quando acordamos para dentro entendemos que a queda em si contém a ressurreição.
"ELE não me quis - ELE me deixou". O que se há de fazer?
Clarice Lispector estava certa quando disse que as melhores coisas da vida só acontecem quando estamos distraídos.
Eu nunca estive tão distraída quando deixei meu coração ser teu. Não procurei. Não lutei. Simplesmente foi.
Sei que o dia em que conhecer todos os meus abismos hei de me abandonar por completo. Esse dia ainda não chegou. Eu ainda preciso de mim. Preciso me encontrar. Parar de chorar. Preciso parar de doer.
Por isso às vezes me ignoro e não me dou a menor importância. Ah, 2011 - o que é preciso pra essa dor ir embora?
É preciso mais que dinheiro, felicidade, comida, diversão e arte. É preciso surpresa. É preciso vontade. É preciso coragem.
É preciso sorriso no céu da boca para que o dia nasça. É preciso acordar rouca e mesmo assim cantar, sorrir, florir...
Encontrar algo que perdeu. É preciso expor o ouvido a zumbidos inexplicáveis e particulares. É preciso ler Maiakóvski e se cobrir com dois metros de sol poente. É preciso desgrenhar o cabelo ao vento, jogar fora pentes e escova. Rasgar antigos retratos, contratos, casamentos, reflexos e suposições.
É preciso tirar a roupa do cabide que chamamos "alma".
É preciso ausentar-se de si para merecer o que há de azul em nós.
Sofrer não deixa de ser uma maneira de sentir-se generoso, porque somente quando sofre o Homem é capaz de soltar de si e mirar o outro.
Sofrer é uma escolha como outra qualquer. O que todos queremos é amenizar a dor do tombo, a dor do absurdo que é existir e saber que as únicas coisas que existem realmente são aquelas que não podemos explicar, é o amor que sentimos e que nos torna mais vivos. Sofrer por não saber o amor. Por não colocá-lo como princípio de vida e objetivo.
Há os que bordam azuis feito o mar, (Ah - o mar!), escrevem poemas, constroem pontes, ensinam o alfabeto, cantam tons secretos, trançam palhas e cabelos, plantam hortências numa manhã de dezembro. E há os que sofrem.
A existência acontece naquilo que criamos. Daí, se não conseguimos construir pontes ou plantar hortências, sofremos! O sofrimento é como uma capa de chuva: usamos toda vez que o tempo turva apesar de saber que ficaremos ensopados do mesmo jeito.
Dor, desespero, desamparo, medo. "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional" - Drummond sabiamente definiu.
Meu ano começou com muita dor. Porém, eu não quero sofrer - quero ter um surto. Decidi bordar minha vida de azul - de mar - de mim mesma. Há tanto ainda em mim. Que pena que EU não fui suficiente para você.
Dor, desespero, desamparo, medo. Nenhuma palavra. Você me deixou no mais profundo silêncio.
Foi nesse silêncio que eu surtei. Descobri uma saudade diferente.
Minha saudade não é um buraco vazio onde guardo meus sorrisos.
Minha saudade é uma menina louca que caminha descalça por aí fazendo rima com a ponta da língua. É um girassol perdido de amor pelo que lhe aquece e rejeita. O que minha saudade quer? Talvez coragem, ou, simplesmente não morrer com a face corroída pela covardia que acomete os que apenas passam pela vida.
Minha saudade luta com essa sensação que tenho dentro do peito: desamparada.
Sentir-se desamparado não é o mesmo que sentir-se sozinho. Não é um sentimento, é uma sentença. É uma sentença de inadequação perpétua. A sensação de desamparo é como uma vela apagada. É a certeza de que nem pai, nem mãe, nem filho é capaz de abrigar o que você se tornou. Só ELE. Somente ELE poderia fazer essa sensação ir embora. Mas não. Dói tentar se encolher num canto para esquecer de si e ainda assim sentir o assoalho sob os pés. Sentir-se em desamparo é perceber que o mundo é pequeno demais para meus passos gigantescos. Sinto-me em desamparo porque sou humana, me sinto demasiadamente humana e quem eu mais amo me vira as costas sem olhar para trás...é o mesmo que ser atropelada ou desacreditada. É querer respirar e ter a certeza que o ar foi embora.
As águas que transbordam em mim agora, são, antes de tudo, uma tentativa cega de inundar as ausências que me compõem.
Fecho os olhos e sei, tenho certeza que o amor aconteceu em nós e em nossas vidas. Porque o amor é isso: um acontecimento.
Eu realmente preciso encontrar minha menina para aprender algumas coisas com ela, porque no momento só tenho vontade de picotar meu cabelo e me afogar num balde, pois sinto que virei minha própria barbie: me rejeito, não me escuto, não faço o que tem que ser feito e não me ajudo. Um balde, por favor?!!
A intenção era escrever aqui e colocar pra fora como me sinto. Funcionou. Explosão.
Vou encontrar minha menina em 2011, surtar, carregar minha dor e deixar de sofrer.

Antes deixo aqui o que você foi para mim.


....e de repente ali estava eu: uma menina chamada fragilidade. Eu sabia que não tinha mais idade pra ficar chorando o dia todo, mas não resisti às primeiras horas e como uma criança que não sabe o que quer e soluça somente por desamparo, chorei.
Nenhuma boca soube me amar como a sua, meu mar.
Era isso, exatamente isso o que eu queria te dizer. Mas você foi antes que eu pudesse.
Outras bocas tentaram, mas elas tinham dentes demais! De mim queriam pedaços. Queriam me engolir! Queriam apenas o que em mim há de efêmero: o sabor. Gente gulosa! Gulosa e burra.
Que prazer há em mastigar o que se deseja? Que cereja satisfará a gula dos olhos que não leem perfumes?
Você, não!!! Você tinha mãos de lavrador. Mãos que tocavam com cuidado terras desconhecidas e firmeza aos nós que precisavam ser desatados. Tinha olhos de cão do mato, cão farejador. Olhos doces e cheios de mar.
O creme de fragilidade que ampara minha queda de fruta é apenas mais uma ilusão que você delicadamente me permite ter.
Você sabe que não há creme e que o destino de toda fruta madura é chegar ao chão.
Você me permite esse engano e é por isso que eu te amo.
Você não é vulgar.
Além disso, você me lambe com seus lábios, ergue meu vestido e me põe em reboliço com sua cor e seu jeito de homem.
E quando tudo acaba, em silêncio, a doçura dos seus olhos me faz mulher...depois adormecemos juntos - calda e fruto - certos de que nada importa mais do que a beleza daquilo que não podemos entender...
Você foi o abraço, o beijo, o apoio, o momento que só me fez bem. A ideia e a fala, a inteligência e a razão, o sorriso, o desejo, o descanso, o sonho, a vida, o amor...a certeza e a saudade!

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, podemos ser amigos Drika ?

Achei seu blog por acaso e adorei o que você escreve.
Se sim, entra aqui http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=13495656779975870873, e me deixa um "oi" pra eu te add.

beijão!