quarta-feira, 13 de março de 2013

MOINHOS DE VENTO



As pessoas vão se calando,  vão ficando esses silêncios...
esses vazios irreparáveis,  até que um dia o tempo engana e diz que não fazem mais sentido, mas ainda são tão sentidos… sempre.

Minha vida é uma festa, mesmo quando estou triste.
Eu estava vazando, essa era a sensação.
De escoamento, de água, de qualquer coisa além do que sou  e do que posso ser.
Depois de conjugar o silêncio, me peguei falante.
O maior presente que alguém pode dar a si mesmo é a inteireza.
Mas é preciso coragem para assim ser, porque toda inteireza nasce de  uma espuma chamada risco.
Estar inteiro é se abandonar o tempo todo para que a possibilidade nos engravide de sonhos. Está inteiro quem não sabe para onde ir, mas, mesmo assim, vai.
Está inteiro quem ri sem motivo e quem não se apavora diante de um dia feio.
Para ser inteiro é preciso um bocado de loucura. Afinal, o mundo é feito de  partes e o diferente sempre padece no paraíso perdido da ausência de reflexo.
Para ser inteiro é preciso ser amante! Amante de si mesmo, da obra que escreve, da peça que apaga, da história que conta, do sorriso que não sai ou da urgência de viver.
É preciso ser amante de quem atravessa o caminho ou simplesmente aparece para partilhar insônias. É preciso ser amante de alguém escolhido, do próprio amor, do caminho.
Para ser inteiro é preciso saber dizer 'não'. Não para as sobras, rimas pobres, dobras.
Aquele que é inteiro não precisa fingir o tempo todo.
Ser inteiro é o melhor presente que podemos dar a alguém, pois não há nada melhor do que o reflexo da inteireza perdida na pupila de quem nos mira.
Inteiro é quem fica rosa de amor e vermelho de vergonha. Quem se veste de amarelo em dia cinza.
Quem nunca viu a neve, mas conhece o seu gosto na ponta da língua. Quem não liga se o vento despenteia os cabelos. Quem engole a vida garganta abaixo e  quem não enjoa com o balanço da realidade, quem não deixa para amanhã o que pode aprender e melhorar hoje. Quem se rende a própria pequenez, unha encravada da condição humana, e por  render-se torna-se tão grande quanto a imensidão do mar. Quem deixa de querer para simplesmente fazer.

Nenhum comentário: