sábado, 30 de abril de 2011

SEPARAR JOIO DO TRIGO!



Acredito que a maior tragédia do homem ocorreu quando ele separou o amor do sexo.
A partir de então, o ser humano passou a fazer muito sexo e nenhum amor.
Não passamos do desejo e eis a verdade: todo desejo como tal se frustra com a posse.
A única coisa que dura para além da vida e da morte é o amor.

(Nelson Rodrigues - 1974).
______________________________________

Essa separação de alguma maneira  é clássica. Um sólido amor preserva um pouco do egoísmo. O amor é necessário até para a saúde mental. Freud dizia que nós adoecemos quando não somos capazes de amar - o amor no sentido lato. Mas não é por acaso que a depressão é a grande doença do nosso tempo. Cada vez mais nossa época não nos permite lidar com tempos loucos, com as perdas, com os lutos. Há uma tentativa de reposição de objetos muito rápida, o indivíduo contemporâneo é obcecado pelo fantasma da plenitude que é sinônimo de perfeição. Vivemos momentos de barbárie, que são momentos de ruptura de civilização dentro da civilização. Não amar ou não deixar o amor acontecer é uma barbárie. Para poder lidar com o outro, em todos os campos, é preciso aprender a conhecer o outro que nos habita internamente.

Quanto mais eu me conheço, mais eu acredito que vivo em plena barbárie. Pessoas que se desfazem de outras - amam e não lutam - perdem por inatividade - não reagem. Esse não é meu mundo. Gauche. Sou gauche. Não me encaixo. Não me vejo. Não me sinto aqui.

Sempre soube lidar com perdas e lutos. Mas este luto que me cerca agora, essa perda é a pior de todas, não consigo me sentir, sentir o chão. O mundo gira tão rapidamente, pessoas trocam umas pelas outras como trocam de roupa, mas não eu. Seria tão mais fácil me adequar. Seguir a fila. Não esperar a plenitude. A dor de saber que eu não sou suficiente. Aceitar a escolha de alguém que está errado. Respeito - partindo.

O que a história nos ensinou sobre o amor? Ganhamos liberdade para escolher como viver nossa vida amorosa e sexual. Será? Qual será o futuro do amor? A história não muda enquanto uma geração não pagar o preço. Qual é a minha geração? Qual é o preço que tenho de pagar?

Hoje em dia estamos vivendo o tempo da sexualidade separada do amor, uma sociedade nômade, bulímica e solitária. Viver com quem não se ama - construir com quem não se reconhece. Definitivamente este não é meu mundo e nem quero que o seja. Como pular fora então?

Nietzsche tinge minha mente agora "LEMBRE-SE DE ESQUECER".

A partir de agora, de hoje em diante...lembrarei de esquecer. Esquecer o momento que depositei minha vida nas tuas mãos, minha alma, meu coração, meu corpo. O que você fez disto tudo? Qual a minha importância na sua vida? Como diria Guimarães "O correr da vida embrulha tudo" - somente para aqueles que permitem que isto aconteça.

Ando me tornando velha. Nunca fui. Nunca serei - mesmo que chegue aos 90. Sinto-me velha quando adoeço meu coração de chorar, quando espero sem receber retorno, quando confio e sou traída, quando desejo e não me dão importância, quando sonho e acordo sempre do mesmo jeito. Sinto-me velha quando não tenho vontade de me olhar no espelho, quando tenho vergonha de mim, quando meu riso anda afogado e quando meus olhos perdem o brilho. Não quero ser assim. LEMBRE-SE DE ESQUECER.

Espero que as pessoas se façam novas. Não da pele para fora, mas dos poros para a alma. Velha é aquela pessoa que não sabe perdoar, não se esforça para derrotar seus medos, não arrisca, não tenta e não ama.
Sinto a chuva na minha pele
Ninguém pode sentir por mim
Só eu posso sentir
Mais ninguém, mais ninguém
Mais ninguém pode dizer as palavras que estão nos meus lábios
Estou afogada nas palavras não ditas
Vivo a vida de braços abertos...sem rumo
Dói. Dói muito. Dói pelo corpo inteiro
Principia pelas unhas, passa pelos cabelos, contagia os ossos
Nada fica sem dor
Também os olhos que  armazenam as imagens do que passou- doem
A dor vem de afastadas distâncias
Sepultados tempos
Incertos futuros
Não se deveria chorar pelo amanhã
Às vezes, viver é mais do que consigo e quero
Tenho arrumado meus livros
Minha fotos
Meus trecos
Tudo no seu devido lugar
Dentro de mim tudo está em desalinho
Abandono
Hora em hora ficam espaços vazios
Cedo ou tarde reencontro
Ponto de partida
Deste lado do meu mundo
A noite anda chegando mais cedo
É na cegueira do mundo que eu vagueio
A maneira mais simples de morrer é não amar
Meu livro começa hoje
O resto ainda está em branco
O resto ainda está em branco...

Eu sou única.
O que isso adianta?
Você não está aqui.

Sou mesmo gauche.

O jeito é seguir com Nietszche.

3 comentários:

Isaac Ruy disse...

Me arrepiou!
... tanta gente que merece um pé... hahahahhaha


Vc não vai acreditar, mas ontem escrevi um poema que usava a mesma idéia de ser gouche! hahaha loucura...

Drika disse...

Enquanto tá arrepiando tá bom!!! ahahahah.....não queria te falar pra não te assustar querido - mas você é um grande e pleno representante 'gauche'...bem-vindo ao time!
beijokas

livia disse...

lindo texto,drica.olha,me sinto assim(gauche)o tempo inteiro.Muito bom abrir um blog e lá termos conteúdo de sensibilidade e inteligencia.sempre te visito(nem sempre comento:tempo...)mas te leio sempre.E vale sempre .abraço,querida.