sábado, 17 de outubro de 2009

Amor - A (longe-sem) MOR (morte)















"CONHECER UMA PALAVRA DESDE A SUA ORIGEM É COMO CONHECER UMA PESSOA DESDE PEQUENA".

Friday - Friday, sexta-feira em inglês, vem do alemão antigo Fria (deusa do amor) + daeg (dia) do inglês antigo. Na verdade, trata-se de uma adaptação do latim dies veneris (dia de Vênus). Fria ou Frigg era a deusa nórdica do amor, correspondente a Vênus da mitologia romana, deusa da formosura, do amor e dos prazeres. Coincidência ou não, parece que já na antigüidade a sexta-feira era dia do agito. É ainda curioso observar-se que, com exceção do português, a maioria das línguas ocidentais usam nomes de deuses da mitologia romana para os dias da semana. Também os planetas do sistema solar carregam nomes de deuses romanos.


1º DE AGOSTO - datas importantes...


Não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. O amor não se comanda e não poderia, em consequência, ser um dever.

Dizia Nietzsche: "O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal".

Nietzsche, Kant, Spinoza, Cristo, Pascal, Hume, Bergson, Platão, Sócrates, Aristóteles e tantos outros buscaram a definição do amor. E por que não nós mesmos?

O que é o amor?

O amor é portanto primeiro, não em absoluto, sem dúvida (pois então seria Deus ou a força superior), mas em relação à moral, ao dever, à Lei. É o alfa e ômega de toda virtude.
O amor não é tão desconhecido assim, nem a tradição tão cega, a ponto de ser preciso inventar sua definição. Tudo talvez já tenha sido dito. Falta compreender.

Ou apenas eu não o compreenda...

Pausânias em seu discurso distingue o amor popular, que ama mais o corpo que a alma, do amor celestial, que ama mais a alma que o corpo e é, por isso, "fiel a vida inteira, porque se uniu a uma coisa duradoura", ao passo que o amor aos corpos perece ao mesmo tempo que a beleza destes.

Encontra-se na mitologia greco-romana uma das primeiras formulações do significado do amor através das diferentes descrições do mito de Eros, o deus do amor. Embora a mitologia bramânica(indiana) também descreva a lenda de Kama, o deus do amor.

São várias as versões da história de Eros e Psique. Li a todas que encontrei.

Platão foi um dos mais importantes filósofos a se preocupar com esta temática, dedicando uma obra inteira à importância e ao significado do amor.
Em 385 A.C. compôs "O Banquete", considerado sua mais brilhante criação e um dos textos chaves da cultura clássica ocidental, uma das primeiras tentativas de análise e compreensão do amor ao iniciar a busca para a sua revelação.
Ele descreve o amor como sendo o responsável pela união das duas metades separadas desde a origem do ser humano. Todas as lendas, histórias e alegorias lidas são muito extensas para reproduzi-las aqui, porém são extremamente elucidativas. Segundo Aristófanes, os humanos apenas se sentirão completos quando encontrarem sua outra metade perdida e tal união só pode ocorrer por intermédio da força do amor.
A elevação do amor é uma questão de inteligência. Emoção e razão passam a fazer parte do mesmo fenômeno, o equilíbrio entre esses dois aspectos é o ponto de maior importância para o desenvolvimento do processo amoroso.

Entender as várias versões do mito de Eros me fez entrever alguns aspectos.
O amor também é visto como uma vivência que proporciona um encontro verdadeiro com o Eu supremo e divino, que compõe o sentido da existência e fortalece a sensação de pertencer a algo maior, dando um signficado à existência. Esse amor único também é desligado do tempo, por isso é considerado atemporal e imperecível, algo que não passa, pois tem sua porção divina, como descrito por Fedro.
Segundo Aristófanes, podemos compreender melhor o desejo frequente das pessoas que amam em estabelecer contatos físicos constantes com seus amados, pois esses contatos ampliam a sensação de bem-estar e prazer. O outro se torna seu objeto de prazer. Isso provoca o aumento da tensão e do receio em perder o objeto de prazer, propiciando o surgimento de emoções conflitivas de medo, dor e raiva, características encontradas em muitos amantes.
Ao perderem uma relação de amor, as pessoas reagem, tornando-se frias, distantes e tristes, seus olhos ficam sem brilho, perdem a energia ativa da vida, a dor se torna visível, o corpo se retrai, os gestos se apresentam lentos, a expressão é triste, pesada e sem brilho; há, inicialmente, um fechamento para novos relacionamentos, surge uma desorganização interna, enfim, tendem a perceber a vida como sem graça, sentem-se desmotivadas. A pessoa tem a sensação de estar longe de seu centro, perdida e solitária, como se estivesse morrendo.
O mito de Eros, descrito de formas tão diversas , aponta sua complexidade, importância e dinâmica. Pode-se dizer que a maneira de se expressar e sentir o amor se tranforma ao longo da existência, pois esse é um processo interativo e evolutivo.
Enfim, o amor é essencial para a realização e plenitude da pessoa, porque é o elemento que preenche de sentido a existência e humaniza as relações na medida em que abre espaço de existência para o outro junto a si.

O amor não é completude, mas incompletude. Não fusão, mas busca. Não perfeição plena, mas pobreza devoradora. O amor é desejo, e o desejo é falta. O amor, escreve Platão, "ama aquilo que lhe falta, e que não possui".

O amor é como um desejo que, por sua própria natureza, seria privado do que deseja, e permanece privado mesmo "quando alcança seu objetivo". Não é mais o amor como o sonhamos, o amor saciado e saciante, o amor água-com-açúcar: é o amor tal como é, em seu sofrimento fecundo, em sua estranha mescla de dor e de alegria, como disse Fedro, o amor insaciável, o amor solitário, sempre inquieto com o que ama, sempre carecendo de seu objeto, é a paixão, a verdadeira, a que enlouquece e dilacera, a que esfomeia e tortura, a que exalta e aprisiona.
O que fazer então?
Seguir o amor sem nele se perder, obedecer a ele sem nele se encerrar.

Stendhal diz que "amar é ter prazer em ver, tocar, sentir por todos os sentidos e o mais perto possível, um objeto amável e que nos ama".

Apaixonar-se está ao alcance de qualquer um. Amar não.

Talvez por isto seja tão difícil deixar de amar o que se ama.
Impossível.

"Amar", dizia Alain, "é encontrar sua riqueza fora de si".

Então, virar as costas para o amor - seria abdicar da vida, da felicidade, da unidade, da paz, da riqueza, da esperança, da caridade, da razão e da emoção, da inteligência, do prazer...



Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Vinícius de Moraes


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